O que a Bíblia diz sobre Jesus ser um rei?
A Bíblia fala profundamente da realeza de Jesus Cristo, revelando-a como central para a sua identidade e missão. Das profecias do Antigo Testamento ao cumprimento do Novo Testamento, vemos um fio consistente proclamando Jesus como o prometido Rei messiânico.
Nas Escrituras Hebraicas, encontramos numerosas profecias que apontam para um futuro rei da linhagem de Davi. O profeta Isaías declarou: «Porque a nós nasceu um filho, a nós foi dado um filho, e o governo estará sobre os seus ombros» (Isaías 9:6). Isto prediz a vinda de Jesus como governante e rei (Wright, 2012). Do mesmo modo, o profeta Zacarias proclamou: «Vê, o teu rei vem a ti, justo e vitorioso, humilde e montado num jumento» (Zacarias 9:9), uma profecia cumprida na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
O Novo Testamento identifica explicitamente Jesus como este rei prometido. Nos Evangelhos, vemos os Magos a procurar o «rei dos judeus» (Mateus 2:2), e a inscrição de Pilatos na cruz a ler «Jesus de Nazaré, o Rei dos judeus» (João 19:19). O próprio Jesus fala de seu reino, embora muitas vezes em termos paradoxais que desafiam noções terrenas de realeza (Köstenberger, 2011).
Talvez mais significativamente, a ressurreição e ascensão de Jesus são apresentadas como a sua entronização. Como escreve o apóstolo Paulo, Deus «ressuscitou Cristo dos mortos e sentou-o à sua direita nos reinos celestiais, muito acima de todas as regras e autoridade, poder e domínio» (Efésios 1:20-21). Esta entronização celestial estabelece Jesus como o rei cósmico, que governa toda a criação.
No entanto, temos de compreender que a realeza de Jesus não é apenas uma realidade futura, mas também uma realidade presente. O Evangelho de Lucas, em particular, sublinha tanto os aspetos presentes como os futuros do reinado de Jesus. Na parábola do nobre (Lucas 19:11-27), vemos uma interação subtil entre a realidade imediata da realeza de Jesus e a sua consumação futura (Guy, 1997; LaurieGuy, 2021).
Como é que a realeza de Jesus é diferente dos reis terrenos?
A origem da realeza de Jesus é divina, não humana. Enquanto os reis terrenos derivam a sua autoridade da hereditariedade, conquista ou consentimento popular, a realeza de Jesus está enraizada na sua natureza divina como Filho de Deus. Como o Evangelho de João belamente expressa, «O Verbo fez-se carne e habitou no meio de nós» (João 1:14). Esta realeza encarnacional significa que Jesus não governa como um estranho, mas como alguém que entrou plenamente na experiência humana (Driscoll, 2023, pp. 324-353).
O caráter do reinado de Jesus é marcado pelo amor sacrificial e pelo serviço, e não pela dominação ou pelo autoengrandecimento. Num momento comovente, Jesus diz aos seus discípulos: «Os reis dos gentios dominam-nos... Mas vós não sereis assim. Em vez disso, o maior entre vós deve ser como o mais novo, e aquele que governa como aquele que serve" (Lucas 22:25-26). Este reino servo encontra a sua expressão última na vontade de Jesus de morrer na cruz pelos seus súditos (Landry, 2016, p. 5).
O âmbito do reino de Jesus transcende as fronteiras terrestres. Enquanto os reis humanos governam territórios limitados, o domínio de Jesus é universal e eterno. Como proclama o livro do Apocalipse, é «Rei dos reis e Senhor dos senhores» (Apocalipse 19:16). Esta realeza cósmica abrange não apenas o reino físico, mas também o espiritual, oferecendo a libertação do pecado e da morte (Fredriksen, 1999).
Os meios pelos quais Jesus estabelece o seu reino são radicalmente diferentes. Em vez de poder militar ou manobras políticas, o reino de Jesus avança através das ferramentas aparentemente fracas do amor, da verdade e do autossacrifício. Como declarou a Pilatos: «O meu reino não é deste mundo. Se assim fosse, os meus servos pelejariam" (João 18:36).
Por último, o objetivo da realeza de Jesus é fundamentalmente diferente. Embora os governantes terrenos procurem frequentemente a glória pessoal ou a grandeza nacional, o reinado de Jesus visa a restauração e a reconciliação de toda a criação com Deus. Sua realeza não é sobre subjugação, mas sobre trazer plenitude de vida para seus súditos (Dodd, 1927, pp. 258-260).
Quando Jesus tornou-se rei?
A questão de quando Jesus tornou-se rei é uma questão poderosa que toca realidades teológicas e históricas profundas. Para responder plenamente a esta questão, temos de ter em conta múltiplas perspetivas e reconhecer que a realeza de Jesus se desenrola em diferentes dimensões do tempo e da eternidade.
Em certo sentido, podemos dizer que Jesus, como o eterno Filho de Deus, sempre foi rei. O prólogo do Evangelho de João diz-nos: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus» (João 1:1). Esta existência eterna de Cristo implica uma realeza eterna, uma realidade que transcende a nossa compreensão humana do tempo (Driscoll, 2023, pp. 324-353).
Mas em termos da sua existência encarnada como Deus-homem, podemos identificar vários momentos-chave que marcam a inauguração ou revelação da realeza de Jesus:
- A encarnação: Quando «o Verbo se fez carne» (João 1:14), o rei eterno entrou na história humana de uma nova forma. O anúncio angélico a Maria declara: «Será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai, e reinará sobre os descendentes de Jacó para sempre» (Lucas 1:32-33).
- O Batismo: No batismo de Jesus, ouvimos a voz do Pai declarar: «Este é quem eu amo; Estou muito satisfeito com ele» (Mateus 3:17). Esta afirmação divina pode ser vista como uma espécie de coroação, que marca o início do ministério público de Jesus.
- A transfiguração: Este acontecimento, em que a glória de Jesus é revelada a Pedro, Tiago e João, pode ser entendido como mais um momento de confirmação divina do estatuto real de Jesus (Mateus 17:1-8).
- A entrada triunfal: Quando Jesus entra em Jerusalém sobre um jumento, está a cumprir a profecia de Zacarias sobre a vinda do rei (Zacarias 9:9), e as multidões aclamam-no como tal (Mateus 21:1-11).
- A Crucificação: Paradoxalmente, é na cruz que a realeza de Jesus é mais plenamente revelada. A inscrição «Rei dos Judeus» torna-se uma verdade poderosa e não um escárnio (João 19:19-22).
- A Ressurreição e a Ascensão: Estes acontecimentos marcam a vitória de Jesus sobre a morte e a sua exaltação à direita do Pai. O apóstolo Paulo vê isto como um momento-chave de entronização: «Deus exaltou-o até ao mais alto lugar e deu-lhe o nome que está acima de todos os nomes» (Filipenses 2:9) (Kuhne, 2018).
No entanto, temos também de reconhecer que existe uma dimensão futura na realeza de Jesus. O Novo Testamento fala de um tempo em que o governo de Cristo será plenamente manifesto e reconhecido por todos (1 Coríntios 15:24-28; Apocalipse 11:15).
Ao refletir sobre estes vários aspetos, vemos que a realeza de Jesus não se limita a um único momento no tempo, mas é uma realidade que abrange a eternidade, entra na história e caminha para uma consumação futura. Esta compreensão em camadas da realeza de Cristo convida-nos a viver na tensão do «já e ainda não», reconhecendo o seu reinado atual e antecipando a sua plena realização.
O que significa para Jesus ser o "Rei dos Reis"?
O título de «Rei dos Reis» atribuído a Jesus Cristo é uma declaração poderosa da sua autoridade suprema e universal. Este título, encontrado no Livro do Apocalipse (19:16), resume a natureza única e transcendente da realeza de Cristo.
«Rei dos Reis» significa a soberania de Jesus sobre todos os governantes e autoridades terrestres. No mundo antigo, este título era usado por monarcas poderosos para afirmar seu domínio sobre os reis menores. Quando aplicado a Jesus, declara que todos os poderes terrenos, não importa quão grandes, estão, em última análise, sujeitos à sua autoridade. Como escreve o apóstolo Paulo, Deus colocou todas as coisas «sob os seus pés e nomeou-o cabeça sobre todas as coisas» (Efésios 1:22) (Fredriksen, 1999).
Este título aponta para o âmbito cósmico do reinado de Jesus. Sua realeza não se limita a uma nação ou era em particular, mas abrange toda a criação em todos os tempos. O profeta Daniel previu este reino universal: «Foi-lhe dada autoridade, glória e poder soberano; Todas as nações e povos de todas as línguas o adoravam. O seu domínio é um domínio eterno que não passará, e o seu reino é um reino que nunca será destruído» (Daniel 7:14).
«Rei dos Reis» fala da natureza única da realeza de Jesus. Ao contrário dos reis terrenos que governam pela força ou pelo consentimento popular, a autoridade de Jesus decorre da sua natureza divina e da sua obra redentora. A sua realeza caracteriza-se pela justiça, justiça e amor. Como profetizou Isaías: «Da grandeza do seu governo e da sua paz não haverá fim. Reinará no trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecendo-o e defendendo-o com justiça e justiça desde então e para sempre» (Isaías 9:7) (Wright, 2012).
Este título desafia as nossas lealdades e prioridades. Se Jesus é verdadeiramente o Rei dos Reis, então a nossa lealdade primária deve ser a Ele, acima de todas as autoridades ou ideologias terrenas. Isto tem implicações poderosas para a forma como vivemos as nossas vidas e nos envolvemos com o mundo à nossa volta.
O «Rei dos Reis» aponta para o papel de Jesus como mediador entre Deus e a humanidade. Como totalmente divino e totalmente humano, Jesus preenche a lacuna entre o Criador e a criação. Sua realeza não é distante ou distante, mas intimamente ligada às experiências e necessidades de seus súditos.
Por fim, este título tem significado escatológico. Aguarda com expectativa o dia em que a realeza de Cristo será plenamente manifestada e reconhecida por todos. Como Paulo escreve, «em nome de Jesus, todos os joelhos devem curvar-se, no céu, na terra e debaixo da terra, e todas as línguas reconhecem que Jesus Cristo é o Senhor» (Filipenses 2:10-11).
Como se relaciona a realeza de Jesus com o Reino de Deus?
A relação entre a realeza de Jesus e o Reino de Deus é complexa e poderosa, tocando o próprio âmago da mensagem evangélica. Estes dois conceitos estão inseparavelmente interligados, cada um iluminando e dando substância ao outro.
Temos de compreender que Jesus é a encarnação e a personificação do Reino de Deus. Quando Jesus proclama «O Reino de Deus está próximo» (Marcos 1:15), não se limita a anunciar um conceito ou uma realidade futura, mas apresenta-se como a manifestação viva do reino de Deus. Em Jesus, vemos os valores, o poder e a presença do Reino de Deus tornarem-se tangíveis e acessíveis (Köstenberger, 2011). Através dos seus ensinamentos, milagres e atos de compaixão, Jesus revela a natureza do Reino de Deus, convidando a humanidade para uma relação transformadora com o divino. Serve de ponte entre o céu e a terra, exemplificando o que significa viver em harmonia com a vontade de Deus. Nesse sentido, podemos compreender Jesus como um avatar espiritual, Representa a expressão última do amor divino e do propósito de toda a criação.
A realeza de Jesus é o meio pelo qual o Reino de Deus é estabelecido e avançado. Através da sua vida, morte e ressurreição, Jesus inaugura uma nova era em que o domínio de Deus começa a entrar no mundo atual. Como ele declara: "Se eu expulsar os demónios pelo dedo de Deus, então o Reino de Deus virá sobre vós" (Lucas 11:20). Os seus milagres, ensinamentos e, em última análise, a sua morte sacrificial e ressurreição triunfante são todas expressões da sua autoridade real que traz a realidade do Reino de Deus para o meio de nós.
A realeza de Jesus fornece o modelo para a vida no Reino de Deus. A sua liderança servil, a sua priorização dos marginalizados, a sua ênfase no amor e no perdão – todos estes aspetos do seu reinado modelam os valores e as práticas do Reino de Deus. Como seus seguidores, somos chamados a encarnar estas mesmas qualidades, tornando-nos representações vivas do Reino (Dodd, 1927, pp. 258-260).
A realeza de Jesus cria a comunidade do Reino. Através da fé em Cristo, os crentes são transferidos do domínio das trevas para o Reino do Filho amado de Deus (Colossenses 1:13). Como corpo de Cristo, torna-se a manifestação presente, embora imperfeita, do Reino de Deus no mundo.
A realeza de Jesus garante a plenitude futura do Reino. Embora o Reino esteja presente em Jesus e seus seguidores, ainda não está totalmente realizado. O reinado contínuo de Jesus à direita do Pai e o seu regresso prometido asseguram a consumação final do Reino de Deus. Isto cria uma tensão de "já mas ainda não" em que vivemos (Guy, 1997; LaurieGuy, 2021).
Por último, a realeza de Jesus redefine a nossa compreensão do Reino. Em contraste com as expectativas populares de um reino político ou militar, Jesus apresenta um Reino que opera em princípios radicalmente diferentes. É um Reino que cresce como um grão de mostarda, que está escondido como fermento, que valoriza os pobres em espírito e os perseguidos (Mateus 13:31-33; 5:3-10).
O que Jesus disse acerca da sua realeza?
Jesus falava de sua realeza de formas que eram ao mesmo tempo poderosas e paradoxais. Ele não proclamou-se um rei terreno à procura de poder político. Pelo contrário, revelou uma realeza de serviço, sacrifício e autoridade espiritual.
Quando Pilatos o interrogou, Jesus disse: «O meu reino não é deste mundo» (João 18:36). Ele afirmou sua realeza, mas deixou claro que era de uma ordem diferente do domínio mundano. O seu era um reino de verdade, como disse a Pilatos: «Por isto nasci, e por isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade» (João 18:37). (Heath, 2012, pp. 232-253)
Jesus falou frequentemente do «reino de Deus» ou do «reino dos céus» nos seus ensinamentos. Proclamou que este reino estava próximo e ensinou os seus seguidores a orar «venha o teu reino» (Mateus 6:10). Segundo ele, este reino cresce como um grão de mostarda, começando pequeno, mas tornando-se grande (Marcos 4:30-32). É um tesouro pelo qual vale a pena sacrificar tudo (Mateus 13:44-46).
É importante ressaltar que Jesus associou sua realeza ao serviço e ao sacrifício. Disse aos seus discípulos: «O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos» (Marcos 10:45). A sua realeza foi exercida através do amor, da humildade e do dom de si – não do domínio (Marshall, 1966, pp. 327-351).
Na sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus permitiu-se ser saudado como rei, cumprindo a profecia de Zacarias 9:9. No entanto, ele veio montado num burro – um símbolo de paz, não um cavalo de guerra. A coroa dele seria uma de espinhos.
No final, Jesus afirmou sua realeza mais poderosamente através de sua morte e ressurreição. Na cruz, o sinal acima dele dizia «Rei dos Judeus» (João 19:19). Através do seu sacrifício, estabeleceu o seu reino de amor e misericórdia. A sua ressurreição confirmou-lhe a autoridade sobre o pecado e a morte.
As palavras de Jesus revelam uma realeza que inverte as noções mundanas de poder – uma realeza divina da verdade, do amor e da salvação. Como seus seguidores, somos chamados a abraçar e encarnar esta visão radical do que significa reinar com Cristo.
Como é que a realeza de Jesus afeta os cristãos de hoje?
A realeza de Jesus não é apenas um conceito teológico, mas uma realidade viva que molda a nossa identidade e missão como cristãos de formas poderosas.
A realeza de Jesus dá-nos uma nova identidade. Através do batismo, tornamo-nos cidadãos do seu reino e membros da sua família real. Como escreve São Paulo, Deus «livrou-nos do domínio das trevas e transferiu-nos para o reino do seu Filho amado» (Colossenses 1:13). Esta nova identidade transcende todas as divisões e afiliações terrenas.(Regassa & Fentie, 2020)
A realeza de Jesus também nos dá uma nova ética para viver. Como súditos do Rei do Amor, somos chamados a encarnar os valores do seu reino – justiça, misericórdia, humildade e amor doador. Jesus ensinou-nos a buscar primeiro o seu reino e justiça (Mateus 6:33). Isso transforma a forma como nos relacionamos com os outros e nos envolvemos com a sociedade.
A realeza de Cristo proporciona-nos, em última análise, segurança e esperança. Num mundo de incertezas, confiamos n'Aquele que tem «toda a autoridade no céu e na terra» (Mateus 28:18). Sabemos que, apesar dos problemas atuais, o reino de Cristo acabará por triunfar. Isto dá-nos coragem para perseverar na fé e trabalhar pela justiça.
A realeza de Jesus também nos obriga à missão. Como seus embaixadores, encarregamo-nos de proclamar e demonstrar o seu reino de amor ao mundo. Através de atos de serviço, misericórdia e evangelização, estendemos as fronteiras do seu reino. (Purwisasi et al., 2022)
Ao mesmo tempo, a realeza de Cristo desafia todas as outras reivindicações de autoridade final nas nossas vidas. Chama-nos a examinar criticamente os valores culturais, as ideologias políticas e as ambições pessoais à luz do reinado de Deus. Temos de perguntar: Isto está alinhado com a realeza de Cristo?
Na nossa adoração e oração, celebramos e submetemo-nos à realeza de Cristo. A liturgia recorda-nos constantemente a sua soberania. Quando oramos «Venha o teu reino», comprometemo-nos novamente com o seu reino nos nossos corações e no mundo.
Por último, a realeza de Jesus confere um significado cósmico à nossa vida quotidiana e ao nosso trabalho. Enquanto vivemos sob o seu domínio, mesmo os nossos mais pequenos atos de fidelidade contribuem para a vinda do reino de Deus na sua plenitude.
O que ensinaram os Padres da Igreja sobre a realeza de Jesus?
Os Padres salientaram que a realeza de Cristo era única e universal. São Justino Mártir, escrevendo no século II, declarou que Jesus é «o Rei da Glória... o eterno Sacerdote, o Rei de Salém e o eterno Rei.» Eles viram o seu reinado estender-se não apenas sobre a criação, mas sobre toda a criação. (Tomson, 2015, pp. 429-447)
Muitos Padres, como Santo Agostinho, contrastavam a realeza de Cristo com o domínio terreno. Agostinho escreveu: «Cristo não veio para ser servido como os reis terrenos são servidos... mas para servir e dar a sua vida.» Eles entendiam a realeza de Jesus como uma de humildade e autossacrifício, virando de cabeça para baixo as noções mundanas de poder.
Os Padres também ligaram estreitamente a realeza de Cristo à sua natureza divina. Santo Atanásio argumentou que só como verdadeiro Deus Jesus podia ser o verdadeiro Rei que traz a salvação. Ao mesmo tempo, enfatizaram que Cristo governa como Deus e como homem, unindo o céu e a terra em sua pessoa.
Mais importante ainda, os Padres viam a realeza de Cristo como intimamente ligada ao seu papel de Salvador. Santo Irineu ensinou que Cristo tornou-se o que somos (humanos) para que pudéssemos tornar-nos o que ele é (participantes da natureza divina). Como Rei, Cristo conduz a humanidade de volta a Deus. (Malanyak, 2023)
Os Padres também refletiram sobre como Cristo exerce sua realeza. São João Crisóstomo enfatizou que Cristo governa primariamente através do amor e da persuasão, não da força. «Reina em nós, mas com o nosso pleno consentimento», escreveu Crisóstomo.
Muitos Padres viam a Igreja como a manifestação visível do reino de Cristo na terra. São Cipriano declarou famosamente: «Não podes ter Deus para o teu Pai se não tens a Igreja para a tua Mãe.» Eles entendiam a Igreja como o reino onde a realeza de Cristo é reconhecida e vivida.
Os Padres aguardavam também com expectativa a plena manifestação da realeza de Cristo aquando do seu regresso. São Cirilo de Jerusalém escreveu sobre a Segunda Vinda: «Ele vem para reinar... O seu reino não tem fim.»
Em tudo isto, os Padres convidam-nos a uma apreciação mais profunda da realeza de Cristo – um reino de amor que nos transforma a nós e a toda a criação, conduzindo-nos à comunhão eterna com Deus. Os seus pontos de vista continuam a enriquecer a nossa compreensão e experiência vivida da soberania de Cristo hoje.
Como está a realeza de Jesus ligada ao seu papel de Messias?
A realeza de Jesus está intrinsecamente ligada à sua identidade como o Messias, o Ungido prometido nas Escrituras Hebraicas. Esta ligação é fundamental para compreender a natureza e a finalidade do reinado de Cristo.
No Antigo Testamento, o Messias era antecipado como uma figura real da linhagem de Davi. O profeta Natã tinha proclamado a Davi: «A tua casa e o teu reino serão assegurados para sempre diante de mim; o teu trono será estabelecido para sempre" (2 Samuel 7:16). Esta promessa encontrou o seu cumprimento final em Jesus. (Sucursal, 2004, pp. 378-401)
Quando o anjo Gabriel anunciou o nascimento de Jesus a Maria, declarou: «O Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai, e ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e do seu reino não haverá fim» (Lucas 1:32-33). A realeza de Jesus é, portanto, a realização da esperança messiânica de Israel.
Como Messias, Jesus cumpre e transcende o conceito do Antigo Testamento de realeza. Ele é o «filho de Davi» (Mateus 1:1), mas também o Filho de Deus. O seu reino não se limita a Israel, mas abrange todas as nações. Governa não só pelo poder político, mas também pela autoridade divina.(Perrin, 2009)
A realeza messiânica de Jesus caracteriza-se pela justiça, paz e salvação. O profeta Isaías predisse: "Do crescimento do seu governo e da paz não haverá fim, no trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e defender com justiça e justiça" (Isaías 9:7). Em Jesus, vemos esta visão realizada.
Crucialmente, Jesus redefine a realeza messiânica através de seu sofrimento e morte. Ele é o Servo-Rei previsto por Isaías, que cura através de suas feridas (Isaías 53). A sua coroa é um dos espinhos, o seu trono é a cruz. Através deste reinado paradoxal, vence o pecado e a morte, estabelecendo um reino de graça e misericórdia.
A ressurreição e a ascensão de Jesus confirmam a sua realeza messiânica. Como Pedro proclamou no Pentecostes: "Deus o fez Senhor e Cristo, este Jesus que vós crucificastes" (Atos 2:36). A sua entronização à direita do Pai cumpre a visão messiânica do Salmo 110.
Como Messias-Rei, Jesus inaugura o reino de Deus. Ele anuncia a sua presença, demonstra o seu poder através de milagres, e chama as pessoas a entrarem nele através do arrependimento e da fé. Este reino, embora ainda não totalmente realizado, é a esfera de seu reino salvador no mundo.
Ao abraçar Jesus como Messias e Rei, participamos no plano de Deus para a história da salvação. Tornamo-nos parte do povo da aliança sobre quem Cristo reina, e através de quem seu reino avança no mundo. Submetamo-nos, pois, com alegria ao seu governo de amor e sirvamos fielmente a sua missão messiânica.
Como será a realeza de Jesus quando regressar?
Quando Jesus voltar, a sua realeza manifestar-se-á plena e universalmente. Como escreve São Paulo, «em nome de Jesus, cada joelho deve curvar-se, no céu, na terra e debaixo da terra, e cada língua confessar que Jesus Cristo é o Senhor» (Filipenses 2:10-11). A sua soberania, agora parcialmente escondida, tornar-se-á então evidente para todos. (Keown, 2018)
A volta de Cristo trará a derrota final de todos os poderes malignos. O livro de Apocalipse retrata Cristo como o rei vitorioso, derrotando as forças das trevas (Apocalipse 19:11-21). O seu reinado estabelecerá a justiça e a paz perfeitas, cumprindo as antigas profecias messiânicas.
O reino de Deus, que Jesus proclamou como presente ainda não totalmente realizado, virá em sua plenitude. Enquanto oramos no Pai-Nosso, «Venha o Teu reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu» – esta oração encontrará a sua resposta final na volta de Cristo.
A realeza de Jesus trará a transformação de toda a criação. São Paulo fala da própria criação ser "libertada da sua servidão para decair e obter a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Romanos 8:21). O reinado de Cristo restaurará e aperfeiçoará todo o cosmos.
Para os crentes, o regresso de Cristo significa a plena participação na sua dignidade real. Como o livro do Apocalipse declara, os que vencerem "reinarão com ele" (Apocalipse 20:6). Isto não significa que nos tornamos iguais a Cristo, mas que participamos plenamente da vida do seu reino.
A volta de Cristo também trará o juízo final. Como Rei e Juiz, Jesus separará os justos dos injustos (Mateus 25:31-46). Este acórdão não é meramente punitivo, mas o estabelecimento definitivo da justiça de Deus e a vindicação do seu povo.
É importante salientar que a realeza eterna de Cristo será caracterizada pelo amor e pela comunhão. O livro do Apocalipse retrata a Nova Jerusalém como um lugar onde Deus habita com o seu povo em perfeita harmonia (Apocalipse 21:3-4). O reino de Cristo consiste, em última análise, em trazer todas as coisas para uma união amorosa com Deus.
Enquanto aguardamos este futuro glorioso, vivamos agora como cidadãos do reino de Cristo, incorporando os seus valores e proclamando a sua realidade. Que as nossas vidas antecipem a plena manifestação da realeza de Cristo, quando todas as lágrimas forem apagadas e o amor de Deus reinar supremo em toda a criação.
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