
O Papa Leão XIV dirige-se a bispos, sacerdotes, religiosos, agentes pastorais e leigos na Catedral do Espírito Santo em Istambul, Turquia, em 28 de novembro de 2025. / Crédito: Categoria: Meios de comunicação do Vaticano
ACI MENA, 28 de novembro de 2025/10h05 (CNA).
O Papa Leão XIV iniciou o segundo dia de sua viagem apostólica à Turquia na Catedral do Espírito Santo, em Istambul, uma casa espiritual vital para uma comunidade católica diversificada, composta em grande parte por imigrantes de todo o mundo. A catedral – uma longa paragem habitual para os pontífices que visitam a Turquia – acolheu o Santo Padre com profunda emoção e esperança vibrante.
Na entrada, o Papa Leão foi recebido pelo padre Nicola Masedu, um sacerdote sardo que serviu na Turquia por mais de 15 anos e viveu uma vida marcada pela missão em todo o Oriente Médio. Mudou-se primeiro para o Líbano aos 17 anos, mais tarde para o Irão — onde foi detido brevemente —, depois para a Terra Santa e, por último, para Istambul.

Numa entrevista à ACI MENA, parceira noticiosa em língua árabe da CNA, Masedu recordou que o primeiro papa com quem se encontrou foi o Papa Paulo VI, que saudou no aeroporto de Beirute durante uma breve escala no caminho do pontífice para a Índia. Mais tarde, ele conheceu São João Paulo II em Castel Gandolfo depois de ser forçado a deixar o Irã, e o Papa Bento XVI em Belém em 2008.
Masedu também recebeu o Papa Leão com o mesmo crucifixo que uma vez apresentou ao Papa Francisco. Explicou que o crucifixo pertencia originalmente às Irmãs da Caridade no Hospital Austríaco, que o presentearam à paróquia quando estavam a limpar alguns dos seus quartos. «Este crucifixo tem uma história de oração e proteção», afirmou, acrescentando uma memória pessoal: «Foi um ponto de referência para Kamila, o nosso pequeno papagaio, que — sempre que estava assustada — voava para o meu escritório e refugiava-se perto dele.»

Masedu também partilhou com a ACI MENA o dom simbólico que a comunidade preparou para o Papa Leão: Um cálice de prata feito por um artista arménio, gravado com os seis apóstolos que trouxeram o cristianismo para esta terra.
A partir desta oferta profundamente simbólica, o sacerdote refletiu sobre as antigas raízes cristãs da Turquia, refletindo sobre o facto de que esta terra já esteve no coração da Igreja primitiva. Sublinhou o espírito de unidade ecuménica que une as diferentes Igrejas no seu esforço, como afirmou, de «permanecerem próximas umas das outras».
Falou abertamente sobre os desafios que a sua comunidade enfrenta, especialmente os imigrantes que lutam com dificuldades financeiras, autorizações de residência e, por vezes, discriminação. Ainda assim, a paróquia trabalha incansavelmente para acompanhá-los espiritual e materialmente, oferecendo-lhes educação, apoio social, assistência médica quando necessário, assim como retiros e acompanhamento psicológico.
Refletindo sobre a diferença entre a vida cristã no Líbano e na Turquia, Masedu observou que, no Líbano, se sentia «em casa», rodeado de símbolos cristãos visíveis, ao passo que, na Turquia, as igrejas permanecem, em grande medida, escondidas da vista, sendo a Basílica de Santo António na rua İstiklal uma exceção notável. Concluiu manifestando a sua esperança de que a visita do Papa Leão reforçará a comunidade cristã, incentivando-a a perseverar e a continuar a trabalhar pela paz.
Exilado pela fé
Entre os paroquianos presentes nesta manhã estava Suhail, um iraniano de 36 anos que chegou à Turquia há sete anos depois de se converter ao cristianismo. Forçado a deixar o Irã por causa de sua fé, ele agora trabalha em estreita colaboração com uma comunidade de católicos iranianos que também procuraram refúgio na Turquia.

Suhail confirmou que a prática do cristianismo na Turquia é «imensamente mais segura» do que no Irão, onde foi anteriormente detido. No entanto, consciente do perigo que os cristãos ainda enfrentam em seu país de origem, ele optou por não partilhar detalhes sobre a perseguição lá, de modo a não colocar ninguém em maior risco.
Em vez disso, falou com gratidão sobre a liberdade religiosa que encontrou em Istambul e sobre a dignidade de poder viver e adorar abertamente: «Posso rezar, posso assistir à Missa e posso crescer na minha fé. Por isso, estou grato», afirmou.
Suhail tem ajudado na catedral durante meses em preparação para a visita papal e descreveu a oportunidade de dar as boas-vindas ao Papa Leão como «uma bênção além das palavras».
Uma voz africana
Também partilhou a sua alegria com Philip Tata, originário dos Camarões e agora presidente do grupo de jovens na Catedral do Espírito Santo.
Tendo vivido no Gabão antes de se mudar para a Turquia há quatro anos, Tata falou sobre a notável diversidade que forma a comunidade paroquial. Ele explicou que a missa é celebrada em inglês, turco e francês, refletindo a presença de uma grande comunidade africana, muitos dos quais vêm de países francófonos.

Tata recordou como o Papa Francisco se encontrou anteriormente com os refugiados nesta mesma igreja, e acredita que o Papa Leão continua no mesmo caminho pastoral, dando especial ênfase aos migrantes, às pessoas deslocadas e àqueles que vivem nas margens. O Papa Leão mencionou explicitamente refugiados e imigrantes em sua mensagem nesta manhã, um momento que comoveu profundamente a congregação.
Refletindo sobre os jovens católicos na Turquia, ele disse que muitos jovens esperam sair, não por causa da perseguição religiosa, mas por causa das oportunidades económicas limitadas e da escassez de empregos, que os levam a procurar um futuro mais estável em outros lugares. Ainda assim, expressou a esperança de que a visita papal possa inspirar apoio e encorajamento renovados para a geração mais jovem.
Vozes libanesas cantam para o Papa em Istambul
Entre os fiéis reunidos na catedral estavam também católicos libaneses que agora vivem na Turquia e não estarão no Líbano quando o papa visitar sua terra natal no domingo. No entanto, providencialmente, encontraram-no aqui, naquela que se tornou a sua segunda casa, e até tiveram a oportunidade de cantar para ele como parte do coro.

Sleiman Saikali, que vive na Turquia há 30 anos, viaja para İznik para cantar para o papa durante a comemoração histórica do Concílio de Niceia. Partilhou a sua profunda alegria por acolher o Papa Leão num lugar que simboliza tanto as suas raízes como a sua vida actual. Ele disse que está a preparar-se há meses, não só treinando a sua voz, mas também espiritualmente através da oração.
Falou apaixonadamente sobre a missão por detrás desta viagem papal, insistindo que cada país tem uma vocação distinta. Ele recordou estar presente nas visitas do Papa Bento XVI e do Papa Francisco à Turquia. «Bento era um homem de extraordinária profundidade teológica e a sua visita ao Patriarca Bartolomeu foi um momento ecuménico inesquecível. Francisco foi como uma revolução positiva, devolveu a Igreja aos pobres e aos simples, à justiça e à humildade.»
Ao olhar para o Papa Leão, expressou uma profunda esperança: «Nele vejo uma mistura de Bento, Francisco e João Paulo II. Desde João Paulo II, Deus deu aos papas da Igreja que caminham com os sinais dos tempos, e esta é a obra de Deus, não a nossa.» Para os cristãos na Turquia, afirmou, as visitas papais são vitais. «Como uma minoria muito pequena, carregamos a beleza de manter a fé, mas o perigo do isolamento é real. Não podemos isolar-nos.»

Também faz parte do coro Lili El-Helou, uma estudante libanesa que veio para a Turquia há dois anos. Ela nunca imaginou que um dia iria cantar diante do papa, mas hoje estava entre os que se apresentavam na Catedral do Espírito Santo. Ela também cantará a Kyrie Eleison na melodia maronita, no sábado na Arena.
Lili descreveu como sua vida espiritual se aprofundou desde que se mudou para Istambul, retratando a paróquia como ativa, unida e vibrante, apesar do pequeno número de católicos. Ela disse que se sente em paz ao viver a sua fé em Istambul. No entanto, observou que a situação pode ser «mais difícil» noutras cidades, como Esmirna, onde as irmãs religiosas hesitam por vezes em aparecer nos seus hábitos, não devido a restrições legais, mas sim a reações, comentários e olhares intrusivos.
Uma presença caldeia
A atmosfera na catedral na sexta-feira foi levantada por um coro multilingue, cujas vozes encheram a igreja com hinos em diferentes línguas, incluindo o siríaco, um lembrete da antiga herança cristã enraizada nesta terra.
Entre elas estava a irmã Sandra, uma freira caldeia das freiras do Sagrado Coração, que descreveu a oportunidade de cantar em siríaco — a língua falada por Jesus e preservada pelas Igrejas Orientais — como «uma graça profunda e um momento de grande beleza».

Ela pediu a todos os crentes que rezem pela Turquia, pelo papa e pela comunidade cristã na Turquia, expressando a esperança de que a visita fortaleça a unidade e a paz.
