Estudo Bíblico: O que significa «Satanás» em grego?




  • Satanás em grego traduz-se para Satanas, que é um poderoso símbolo de acusação e calúnia.
  • Satanás tem procurado minar e destruir desde o início, enganando Eva com suas mentiras.
  • Satanás é um adversário real e formidável, como proclamado nas Revelações.
  • O papel de Satanás na Bíblia é multifacetado, desde os seus ataques ao caráter de Jó até às suas tentações de humanidade.
  • Ao compreender o verdadeiro significado de Satanás em grego, estamos armados com conhecimento e podemos derrotar as forças das trevas.

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Qual é a palavra grega original para «Satanás» e o que significa?

O termo grego para Satanás é «Î£Î±Ï ́αÎ1⁄2á3⁄4¶Ï» (Satanas). Esta palavra provém do hebraico «×©Ö ̧××× ⁇ Ö Ÿ» (satanás), que significa «adversário» ou «acusador» (Farrar & Williams, 2016, pp. 72-96).

Em seu sentido mais básico, satanás refere-se a alguém que se opõe ou obstrui. Vemos este significado refletido na forma como o termo é usado no Antigo Testamento. Lá, satanás muitas vezes descreve um adversário legal ou alguém que faz uma acusação.

À medida que o conceito se desenvolveu, Satanás passou a representar um adversário espiritual – o grande adversário de Deus e da humanidade. A tradução grega da Septuaginta da Bíblia hebraica usa ΣαταÎ1/2á3⁄4¶Ï para tornar o satanás hebraico quando se refere a esta figura adversária espiritual.

No Novo Testamento, encontramos Î£Î±Ï ́αÎ1/2á3⁄4¶Ï usado consistentemente para nomear o principal espírito maligno. Os evangelistas e apóstolos viam Satanás como um verdadeiro ser espiritual que trabalha ativamente contra os propósitos de Deus. Retrataram-no como o tentador, o enganador, o acusador dos crentes.

«Satanás» funcionava mais como um título do que como um nome pessoal originalmente. Só com o tempo passou a ser tratado como o nome próprio do diabo. Esta mudança reflete a solidificação da crença num único mal supremo que se opõe a Deus.

O significado de Î£Î±Ï ́αÎ1⁄2á3⁄4¶Ï como “adversário” recorda-nos que a vida cristã envolve luta espiritual. Enfrentamos oposição quando procuramos seguir a Cristo. No entanto, não precisamos temer, porque Cristo venceu o adversário.

Na nossa utilização moderna, herdámos este termo grego praticamente inalterado. Quando falamos de «Satanás», estamos a usar uma palavra com raízes bíblicas profundas. Aponta-nos para a realidade do mal e para a batalha cósmica entre o bem e o mal na qual todos participamos.

Como é que o termo «diabo» é expresso em grego e qual é o seu significado literal?

Voltemos agora a nossa atenção para o termo grego para «diabo» e o seu significado. A palavra grega primária traduzida como «diabo» em inglês é «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos) (Farrar & Williams, 2016, pp. 72-96). Este termo carrega um significado rico para a compreensão da natureza do mal.

ΔÎ1άÎ2οΒοϔ significa literalmente “slander” ou “accuser.” Provém do verbo Î ́Î1αÎ2ÎÎΒΒω (diaballÅî), que significa “caluniar” ou “colocar contra” (Farrar & Williams, 2016, pp. 72-96). Vemos aqui um ser definido pela oposição e pela falsa acusação.

Na Septuaginta, a tradução grega da Bíblia hebraica, Î'Î1άÎ2οÎ'Î¿Ï é frequentemente usada para traduzir a palavra hebraica satanás. Isto mostra quão estreitamente ligados os conceitos de «satanás» e «diabo» se tornaram no pensamento judaico e cristão primitivo.

Os escritores do Novo Testamento usam Î'Î1άÎ2οÎ'Î¿Ï extensivamente. Retratam o diabo como o grande inimigo de Deus e acusador do povo de Deus. Vemos isso especialmente no livro do Apocalipse, onde ele é chamado de "o acusador dos nossos irmãos e irmãs" (Apocalipse 12:10).

É digno de nota que Î ́Î1άÎ2Î¿Î’Î¿Ï é por vezes utilizado como um termo descritivo para o comportamento humano no Novo Testamento. Por exemplo, nas epístolas pastorais, certas pessoas são avisadas para não serem "caluniadoras" (Î'Î1άÎ2οÎ'οÎ1). Este uso lembra-nos que o comportamento diabólico pode manifestar-se em ações humanas.

O significado de Î ́Î1άÎ2Î¿Î’Î¿Ï como «caluniador» dá-nos uma visão da natureza do mal. Sugere que uma tática primária do maligno é espalhar mentiras e falsas acusações. Estas mentiras podem ser sobre Deus, sobre os outros ou sobre nós mesmos.

No nosso mundo moderno, vemos o trabalho do «caluniador» à nossa volta. Falsidades espalharam-se rapidamente, prejudicando reputações e semeando discórdia. Como seguidores de Cristo, somos chamados a ser pessoas de verdade, resistindo ao impulso diabólico de difamar.

A compreensão também pode moldar a nossa abordagem à guerra espiritual. Combatemos as mentiras do diabo com a verdade de Deus. Combatemos as falsas acusações com a garantia do amor e do perdão de Deus em Cristo.

Há ligações entre Satanás/o diabo e figuras na mitologia grega?

Na mitologia grega, não encontramos uma única figura que corresponda perfeitamente ao conceito cristão de Satanás. Mas vários seres mitológicos partilham algumas características com o adversário bíblico (Lyu, 2023). Uma dessas figuras é Prometeu, que desafiou os deuses a darem fogo à humanidade e foi punido por toda a eternidade. Outro é Hades, o governante do submundo, muitas vezes retratado como um antagonista dos deuses. Estes números têm sido objeto de especulações e rumores, com alguns até mesmo a afirmarem que são Rumores infantis de Satanás, mas os seus papéis e atributos na mitologia grega são distintos do retrato cristão de Satanás. Um exemplo é Hades, o governante do submundo, que é frequentemente retratado como uma figura sombria e malévola que procura minar a autoridade dos deuses olímpicos. Da mesma forma, Prometeu é um Titã punido por Zeus por desafiar os deuses e dar fogo à humanidade, o que é paralelo à natureza rebelde de Satanás. Estas comparações levantam a questão: Satanás é uma entidade real Na mitologia grega, ou é uma construção cultural usada para personificar o mal e a oposição à autoridade divina?

Uma figura muitas vezes comparada a Satanás é Prometeu. No mito grego, Prometeu roubou fogo dos deuses para dar aos seres humanos. Por isso, foi castigado por Zeus. Alguns vêem aqui paralelos com a rebelião de Satanás contra Deus e a sua tentação de seres humanos com conhecimento proibido.

Outra figura relevante é Hades, deus do submundo. Embora não seja inerentemente mau no mito grego, Hades governa sobre o reino dos mortos. Isto levou alguns a estabelecer comparações com a associação de Satanás com o inferno na tradição cristã.

Os Titãs, que se rebelaram contra os deuses olímpicos, também podem ser vistos como paralelos à rebelião de Satanás. A sua derrota e punição refletem alguns aspetos da queda de Satanás, tal como descrito na tradição cristã posterior. Em ambos os casos, os Titãs e Anjos caídos em rebelião procuraram derrubar seus respectivos poderes superiores e foram posteriormente expulsos e punidos por seu desafio. A ideia de uma rebelião celestial contra a autoridade divina é um tema recorrente em várias mitologias e tradições religiosas, refletindo o fascínio humano universal pela rebelião e suas consequências. Estas narrativas paralelas servem como contos de advertência sobre as consequências de desafiar ou opor-se à ordem estabelecida.

É importante notar, mas que estas figuras gregas são complexas e não simplesmente "maus" na forma como Satanás é retratado no pensamento cristão. A mitologia grega muitas vezes apresenta uma visão mais ambígua dos seres divinos.

A palavra grega "Î ́αΠ̄Î1⁄4ωÎ1⁄2" (daimÅîn), da qual obtemos "demónio", originalmente se referia a qualquer espírito ou ser divino no pensamento grego. Só mais tarde assumiu uma conotação puramente negativa no uso cristão (Mickiewicz, 2021).

Devemos ser cautelosos em traçar uma linha demasiado direta entre estas figuras mitológicas e o conceito cristão de Satanás. Os contextos teológico e cultural são muito diferentes.

Mas esses paralelos podem nos ajudar a compreender como as ideias sobre seres espirituais e conflitos cósmicos se desenvolveram através das culturas. Lembram-nos que os seres humanos há muito se debatem com questões de bem e mal, rebelião e justiça divina.

Para nós, cristãos, o que mais importa não são os paralelos mitológicos, mas a verdade revelada nas Escrituras. Compreendemos Satanás não através do mito grego, mas através da Palavra de Deus e do ensino da Igreja.

No entanto, reconhecer estas ligações culturais pode enriquecer a nossa compreensão. Lembra-nos que a luta contra o mal é uma preocupação humana universal. Pode ajudar-nos a dialogar com pessoas de diferentes origens religiosas.

Como os termos gregos para Satanás e diabo aparecem no Novo Testamento?

A palavra grega «Î£Î±Ï ́αÎ1⁄2á3⁄4¶Ï» (Satanas) aparece 36 vezes no Novo Testamento (Farrar & Williams, 2016, pp. 72-96). É usado consistentemente para se referir ao principal adversário de Deus e seu povo. Encontramos este termo nos quatro Evangelhos, Atos, cartas de Paulo e Apocalipse.

Nos Evangelhos, Satanás é retratado como o tentador de Jesus no deserto (Mateus 4:10, Marcos 1:13, Lucas 4:8). Jesus também fala de Satanás como o governante dos demónios e aquele que se opõe à obra de Deus (Marcos 3:23-26, Lucas 10:18).

Paulo utiliza «Î£Î±Ï ́αÎ1⁄2á3⁄4¶Ï» nas suas cartas para se referir ao inimigo espiritual da igreja. Ele adverte sobre os esquemas de Satanás (2 Coríntios 2:11) e descreve como Satanás pode impedir a obra do ministério (1 Tessalonicenses 2:18).

O termo «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos), que traduzimos por «diabo», aparece 37 vezes no Novo Testamento (Farrar & Williams, 2016, pp. 72-96). É frequentemente utilizado indistintamente com «Î£Î±Ï ́αÎ1/2á3⁄4¶Ï», referindo-se ao mesmo ser espiritual.

Vemos o termo «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ, utilizado de forma proeminente nas narrativas da tentação (Mateus 4:1-11, Lucas 4:1-13). Aqui, o diabo é retratado como opondo-se diretamente ao plano de Deus e tentando desvirtuar a missão de Jesus.

Nas epístolas pastorais, o termo «Î’Î1ÎîÎ2οΒοϻ é utilizado tanto para se referir ao inimigo espiritual como como uma descrição do comportamento humano. Por exemplo, em 1 Timóteo 3:11, as esposas dos líderes da igreja são instruídas a não serem «caluniadoras» (Î ́Î1αÎ2όΒοÏ...Ï).

O livro do Apocalipse utiliza ambos os termos, retratando Satanás/o diabo como o grande dragão que trava guerra contra o povo de Deus (Apocalipse 12:9). Esta imagem apocalíptica retrata vividamente a luta cósmica entre o bem e o mal.

É de salientar que estes termos são utilizados com uma consistência notável em todo o Novo Testamento. Apesar de diferentes autores e contextos, vemos um retrato unificado de um adversário espiritual principal.

Os escritores do Novo Testamento apresentam Satanás/o diabo como um verdadeiro ser espiritual, não meramente um símbolo do mal. Eles viam-se envolvidos em uma genuína batalha espiritual contra essas forças das trevas.

No entanto, no Novo Testamento, Satanás é sempre retratado como um inimigo derrotado. A morte e a ressurreição de Cristo são vistas como a vitória decisiva sobre os poderes do mal.

O que os primeiros Padres da Igreja ensinaram sobre Satanás e o diabo com base na terminologia grega?

Os Padres da Igreja, escrevendo em grego, naturalmente envolveram-se profundamente com os termos gregos «Î£Î±Ï ́αÎ1/2á3⁄4¶Ï» (Satanas) e «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos). Viram nestas palavras verdades importantes sobre a natureza do mal e a nossa luta espiritual.

Muitos padres enfatizaram o significado de «Î ́Î1ÎÎÎ2ÎÎΒοϻ como «slanderer» ou «accuser». Orígenes, por exemplo, escreveu extensivamente sobre a forma como o diabo acusa os crentes perante Deus, à semelhança de um procurador em tribunal. Esta ideia baseia-se no retrato do Antigo Testamento de Satanás no livro de Jó.

O conceito de Satanás como o "adversário", derivado do significado hebraico da palavra, também foi importante para os Padres. Viram nisto uma verdade fundamental sobre o mal – que se opõe a Deus e aos seus propósitos.

Justino Mártir, escrevendo no século II, ligou o grego «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ com a serpente em Génesis. Ele viu o diabo como o criador do engano, ligando o significado de "caluniador" com as mentiras da serpente no Éden.

Os Padres Capadócios – Basílio, o Grande, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo – desenvolveram uma compreensão sofisticada do mal baseada, em parte, nestes termos gregos. Eles enfatizaram que o mal não é uma substância, mas uma privação do bem, um afastamento de Deus.

João Crisóstomo, conhecido pela sua pregação eloquente, utilizou frequentemente o termo «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ nas suas homilias. Sublinhou o papel do diabo como tentador e enganador, instando a sua congregação a estar vigilante contra estas táticas.

Os Padres, ao mesmo tempo em que levavam Satanás e o diabo a sério como realidades espirituais, tiveram o cuidado de não atribuir muito poder ao mal. Salientaram sistematicamente a soberania de Deus e a derrota final do diabo em Cristo.

O termo grego «Î ́αΠ̄Î1⁄4ωÎ1⁄2» (daimÅîn) e os seus cognatos também figuravam em escritos patrísticos sobre espíritos malignos. Os Padres reinterpretaram este termo, que no grego clássico poderia se referir a qualquer espírito, para significar especificamente espíritos malignos ou demónios.

Muitos Padres viram na terminologia grega um lembrete da natureza intelectual da nossa luta espiritual. Os conceitos de calúnia, acusação e engano apontam para uma batalha que acontece na mente e no coração.

Como os conceitos filosóficos gregos influenciaram as primeiras ideias cristãs sobre Satanás?

A interação entre a filosofia grega e o pensamento cristão primitivo sobre Satanás é uma área fascinante de estudo. Ao refletirmos sobre isso, devemos lembrar que as ideias muitas vezes fluem entre culturas e tradições, moldando-se mutuamente de maneiras sutis.

Nos primeiros séculos do cristianismo, os conceitos filosóficos gregos tiveram uma poderosa influência na forma como os pensadores cristãos conceituaram as realidades espirituais, incluindo a figura de Satanás. A noção grega de daimÅn, que se referia a poderes divinos ou semi-divinos ambivalentes que mediam entre humanos e deuses, forneceu um quadro que os primeiros cristãos adaptaram (Wiebe, 2020).

Vemos essa influência em como os primeiros escritores cristãos descreveram a natureza dos demónios, que associavam a Satanás. Muitos acreditavam que os demónios tinham corpos aéreos, permitindo-lhes realizar várias maravilhas. Este conceito baseou-se em ideias filosóficas gregas sobre a composição dos seres espirituais (Wiebe, 2020).

A tradição filosófica grega de sistematizar o conhecimento também impactou a forma como os primeiros cristãos organizaram suas ideias sobre Satanás e o mal. Os pensadores cristãos começaram a desenvolver demonologias mais estruturadas, categorizando diferentes tipos de espíritos malignos e suas funções. Esta abordagem sistemática ecoou os métodos filosóficos gregos.

O conceito grego de uma luta cósmica entre as forças boas e más encontrou ressonância no pensamento cristão sobre Satanás. Os primeiros escritores cristãos muitas vezes retratavam Satanás como o líder de anjos rebeldes, envolvidos numa batalha cósmica contra Deus e seus anjos fiéis. Esta narrativa traçou paralelos com histórias mitológicas gregas de conflitos entre deuses e titãs.

As ideias filosóficas gregas sobre o livre arbítrio e a responsabilidade moral também influenciaram o pensamento cristão sobre o papel de Satanás. Muitos pensadores cristãos primitivos lidavam com questões de como o mal podia existir em um mundo criado por um Deus bom. Os conceitos filosóficos gregos forneceram ferramentas para abordar estas complexas questões teológicas e éticas.

Mas não devemos simplificar demasiado esta influência. Os primeiros pensadores cristãos não simplesmente adotaram as ideias gregas por atacado. Em vez disso, envolveram-se num processo de adaptação crítica, reinterpretando conceitos gregos através das lentes da revelação bíblica e da experiência cristã.

Este processo de intercâmbio cultural e intelectual reflete a tendência humana de recorrer a conceitos familiares ao encontrar novas ideias. Os primeiros cristãos, muitos dos quais foram educados em filosofia grega, naturalmente usaram estas ferramentas intelectuais para articular e explorar a sua fé.

Vemos nesta história um lembrete de como Deus trabalha através das culturas humanas e tradições intelectuais. Mesmo ao afirmarmos a singularidade da revelação cristã, podemos apreciar como os conceitos filosóficos gregos ajudaram a moldar a compreensão cristã primitiva das realidades espirituais, incluindo a figura de Satanás.

Há diferenças entre os termos hebraicos do Antigo Testamento e os termos gregos do Novo Testamento para Satanás?

No Antigo Testamento, escrito principalmente em hebraico, o principal termo utilizado para Satanás é "ha-satan" (×"×©× ⁇ ן), que significa literalmente "o adversário" ou "o acusador" (Hatch, 2019). Este termo aparece em livros como Jó e Zacarias, onde Satanás é retratado como uma figura celestial que desafia ou testa os seres humanos, muitas vezes com a permissão de Deus. nestes contextos, Satanás não é necessariamente visto como um ser maligno que se opõe a Deus, mas sim como uma espécie de advogado de acusação no tribunal divino.

Quando nos voltamos para o Novo Testamento, escrito em grego, encontramos um conceito mais desenvolvido de Satanás como uma força maligna personificada. O termo grego mais comummente utilizado é «Î£Î±Ï„Î±Î1⁄2á3⁄4¶Ï» (Satanas), que é uma transliteração do hebraico «satan» (Hatch, 2019). Mas o Novo Testamento também introduz outros termos, como «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos), que significa «slander» ou «accuser» e é frequentemente traduzido como «devil» em inglês.

Esta mudança de terminologia reflete uma evolução importante na compreensão do papel e da natureza de Satanás. No Novo Testamento, Satanás é consistentemente retratado como um inimigo de Deus e da humanidade, o líder das forças do mal, e um tentador que procura desviar as pessoas (Wiebe, 2020).

Esta evolução na linguagem e no conceito provavelmente reflete a influência dos desenvolvimentos culturais e teológicos durante o período intertestamental, incluindo a exposição ao dualismo persa e às ideias filosóficas gregas sobre as forças cósmicas do bem e do mal.

Psicologicamente, podemos ver esta mudança como reflexo de uma necessidade crescente de personificar e explicar o problema do mal no mundo. O conceito mais desenvolvido de Satanás no Novo Testamento fornece um ponto focal para a compreensão da oposição espiritual e da luta moral.

Mas temos de ser cautelosos para não simplificar demasiado esta transição. O retrato que o Antigo Testamento faz de Satanás é mais matizado do que por vezes é reconhecido, e elementos do entendimento do Novo Testamento podem ser vistos em livros posteriores do Antigo Testamento e na literatura intertestamental.

O Novo Testamento mantém algumas das metáforas jurídicas associadas ao «satanás» do Antigo Testamento. Por exemplo, em Apocalipse 12:10, Satanás é chamado «o acusador dos nossos irmãos e irmãs», fazendo eco do seu papel em Jó.

Embora existam diferenças entre os termos hebraicos do Antigo Testamento e os termos gregos do Novo Testamento para Satanás, estes refletem um processo complexo de desenvolvimento teológico, em vez de uma simples ruptura. Ao estudarmos essas diferenças, lembremo-nos de que a linguagem sobre as realidades espirituais sempre fica aquém de captar plenamente sua natureza. O nosso objetivo último não deve ser o adversário, mas sim o amor e o poder de Deus para vencer todo o mal.

O que as etimologias gregas fornecem sobre a natureza e o papel de Satanás?

O termo grego primário utilizado para Satanás no Novo Testamento é «Î£Î±Ï„Î±Î1⁄2á3⁄4¶Ï» (Satanas), que, como observamos anteriormente, é uma transliteração do hebraico «satan». Embora este termo em si não forneça novas perspetivas gregas, a sua utilização em contextos gregos tem frequentemente conotações de oposição e de relações contraditórias (Hatch, 2019).

Talvez mais esclarecedor seja o termo grego «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos), muitas vezes traduzido como «diabo». Esta palavra provém do verbo «Î ́Î1αÎ2ÎÎλλω» (diaballÅî), que significa «caluniar», «acusar» ou, literalmente, «jogar». Esta etimologia fornece várias informações sobre a forma como os primeiros cristãos de língua grega conceituaram a natureza e o papel de Satanás (Wiebe, 2020). O termo «diabolos» sugere que os primeiros cristãos de língua grega viam Satanás como um acusador ou caluniador, que procurava constantemente lançar obstáculos ou acusações no caminho dos crentes. Esta compreensão de Satanás está de acordo com a famosa passagem bíblica do Livro de Tiago, Quem originalmente não citou hoje, satanás? (Tiago 4:7) onde os crentes são encorajados a resistir ao diabo, o que implica que Satanás está ativamente a trabalhar contra eles. Esta visão etimológica lança luz sobre as origens do conceito de Satanás como um tentador e adversário na teologia cristã.

A ideia de «jogar através» sugere uma força de divisão, que cria barreiras ou separação. Psicologicamente, isso se alinha com a noção de Satanás como uma força que procura dividir os seres humanos de Deus e uns dos outros.

As conotações de calúnia e falsa acusação em «diabolos» ecoam o retrato do Antigo Testamento de Satanás como um acusador, mas com um tom mais explicitamente negativo. Isto sugere que, no pensamento cristão grego, as acusações de Satanás eram vistas como fundamentalmente desonestas e maliciosas.

Outro termo grego relevante é "Ï€ÎμÎ1ÏÎÎÎζωÎ1⁄2" (peirazÅçn), que significa "o tentador", usado em referência a Satanás em passagens como Mateus 4:3. Este termo provém do verbo «Ï€ÎμÎ1ÏÎÎÎζω» (peirazÅî), que pode significar «testar», «tentar» ou «tentar». Esta etimologia sugere uma visão de Satanás como alguém que põe os seres humanos à prova, tentando levá-los ao pecado (Wiebe, 2020).

A palavra grega "á1⁄4ÏÏÏωÎ1⁄2" (archÅçn), que significa "governante" ou "príncipe", também é usada em referência a Satanás, como na frase "o príncipe deste mundo" (João 12:31). Este termo fornece informações sobre o alcance percebido da influência de Satanás no pensamento cristão primitivo.

Historicamente, estes termos gregos e seu uso refletem a síntese dos conceitos bíblicos hebraicos com as ideias filosóficas e culturais gregas. O retrato resultante de Satanás é mais personificado e cósmico no escopo do que em grande parte do Antigo Testamento.

Estas etimologias revelam uma conceituação do mal como ativo, intencional e relacional. Satanás não é visto como uma mera força abstrata, mas como um ser que se envolve com os seres humanos através de engano, tentação e oposição.

Mas devemos lembrar que, embora estes insights etimológicos sejam valiosos, eles não são toda a história. O retrato bíblico de Satanás é complexo e em camadas, e nenhum termo ou etimologia pode capturá-lo inteiramente.

Recordo que a nossa atenção não deve centrar-se no próprio Satanás, mas sim no amor e no poder de Deus. Estas etimologias podem ajudar-nos a compreender a natureza da luta espiritual, mas a nossa confiança última deve estar em Cristo, que venceu o mundo.

As etimologias gregas fornecem-nos insights sobre Satanás como uma força divisiva, enganosa e oposta. Eles revelam um conceito desenvolvido de mal espiritual que envolve-se ativamente com a vida humana e a sociedade. No entanto, lembremo-nos sempre de que, em nossa fé, essas forças das trevas estão, em última análise, sujeitas à luz de Cristo.

Como as traduções do grego afetaram a compreensão cristã de Satanás ao longo do tempo?

O percurso de tradução de conceitos gregos sobre Satanás para outras línguas moldou profundamente a compreensão cristã ao longo dos séculos. O ato de tradução nunca é neutro – implica sempre interpretação e adaptação cultural.

A tradução dos termos gregos do Novo Testamento para o latim teve um grande impacto inicial. O grego «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos) tornou-se o latim «diabolus», que evoluiu para o inglês «devil». Esta tradução preservou grande parte do significado original grego de «slanderer» ou «accuser», mas, ao longo do tempo, o termo assumiu conotações adicionais no pensamento cristão ocidental (Wiebe, 2020).

Do mesmo modo, o grego «Î£Î±Ï ́αÎ1⁄2á3⁄4¶Ï» (Satanas) foi transliterado em latim como «Satanas», preservando o seu som, mas potencialmente obscurecendo o seu significado original de «adversário» para aqueles que não estão familiarizados com o hebraico. Esta mudança linguística pode ter contribuído para uma visão de Satanás como um nome próprio, em vez de um título descritivo. Esta mudança na compreensão pode também ser vista na tradução da palavra hebraica «×»Öμ×TMלÖμל» (Heylel) no livro de Isaías, que foi transliterado em latim como «lucifer” e tornou-se sinónimo do diabo na tradição cristã. O termo hebraico original referia-se à estrela da manhã Vênus, mas a tradução latina e as interpretações subsequentes vieram a associá-la a Satanás. Estas escolhas linguísticas e translacionais tiveram um impacto duradouro na forma como Satanás e Lúcifer são percebidos na cultura ocidental.

A tradução de termos gregos para línguas vernáculas durante o período da Reforma marcou outra grande mudança. Os tradutores tiveram que lidar com a forma de transformar conceitos gregos complexos em línguas que podem não ter termos equivalentes. Este processo muitas vezes levava a simplificações ou mudanças de significado que podiam alterar sutilmente como Satanás era compreendido.

Por exemplo, o rico termo grego «Ï€ÎμÎ1ÏÎÎÎζωÎ1⁄2» (peirazÅîn), «o tentador», com as suas conotações de teste e tentativa, é muitas vezes traduzido simplesmente como «tempter» em inglês, reduzindo potencialmente a sua gama semântica (Wiebe, 2020). Tais traduções, embora exatas num sentido básico, podem não transmitir plenamente a compreensão grega matizada do papel de Satanás.

A tradução dos termos filosóficos gregos usados nos primeiros escritos cristãos sobre Satanás também influenciou a compreensão posterior. Conceitos como os «corpos aéreos» de demónios, extraídos da filosofia grega, têm sido interpretados ou desacentrados de várias formas em diferentes tradições de tradução, afetando a forma como os cristãos conceptualizam a natureza dos espíritos malignos (Wiebe, 2020).

Psicologicamente, estas mudanças de tradução refletem a tendência humana de compreender conceitos novos ou estrangeiros em termos de ideias mais familiares. Cada cultura e língua que recebeu traduções de textos cristãos gregos, em certa medida, reformulou o conceito de Satanás para se adequar à sua própria visão de mundo e categorias linguísticas.

Historicamente, podemos observar como essas traduções têm contribuído para o desenvolvimento de distintos entendimentos regionais e denominacionais de Satanás. Tradições cristãs orientais, trabalhando mais diretamente com textos gregos, muitas vezes mantêm entendimentos mais próximos dos conceitos gregos originais. Tradições ocidentais, influenciadas por traduções latinas e versões vernáculas posteriores, às vezes desenvolveram noções de Satanás que divergem mais significativamente das fontes gregas.

Nos últimos tempos, a proliferação de traduções da Bíblia em inglês levou a um debate renovado sobre a melhor forma de traduzir termos gregos relacionados a Satanás. Algumas traduções modernas tentam recuperar nuances perdidas em versões anteriores, enquanto outras priorizam a legibilidade contemporânea, cada escolha afetando a forma como os leitores entendem o conceito de Satanás.

Há algum equívoco sobre Satanás com base em mal-entendidos dos termos gregos?

Um equívoco comum advém do termo grego «Î ́Î1άÎ2οΒοϻ (diabolos). Embora este termo signifique principalmente «caluniador» ou «falso acusador», tem sido frequentemente entendido na imaginação popular como denotando um ser de puro mal ou maldade (Wiebe, 2020). Esta simplificação excessiva pode conduzir a uma visão de mundo dualista que exagera o poder e a autonomia de Satanás, diminuindo potencialmente a soberania de Deus na compreensão das pessoas.

Outro mal-entendido refere-se ao grego «Î£Î±Ï ́αÎ1/2á3⁄4¶Ï» (Satanas). Uma vez que este termo entrou em muitas línguas como uma transliteração e não como uma tradução, o seu significado original de «adversário» ou «oponente» é frequentemente perdido (Hatch, 2019). Tal pode levar à ideia errada de que «Satanás» é apenas um nome próprio e não um título descritivo, o que pode ocultar o papel funcional que esta figura desempenha nas narrativas bíblicas.

O termo grego «Ï€ÎμÎ1ÏÎÎÎζωÎ1⁄2» (peirazÅçn), «o tentador», tem sido por vezes mal interpretado devido ao estreitamento da sua gama semântica na tradução. Em grego, este termo carrega conotações de testar e tentar, não apenas seduzir ao pecado (Wiebe, 2020). O mal-entendido pode levar a uma visão demasiado simplista da tentação e da luta moral.

Psicologicamente, estes equívocos muitas vezes refletem tendências humanas para personificar conceitos espirituais complexos e pensar em termos binários de bem e mal absolutos. Embora tal pensamento possa proporcionar uma sensação de clareza, pode não captar totalmente o retrato bíblico matizado de Satanás.

Historicamente, mal-entendidos de termos gregos têm contribuído para o desenvolvimento de demonologias elaboradas que vão muito além do texto bíblico. Por exemplo, a caça às bruxas medieval e moderna foi parcialmente alimentada por interpretações expansivas da linguagem bíblica sobre Satanás e demónios, muitas vezes divorciados dos seus contextos gregos originais.

Outra área de equívoco relaciona-se com a natureza dos demónios. O conceito filosófico grego de demónios com «corpos aéreos» foi por vezes tomado demasiado literalmente, conduzindo a descrições físicas especulativas de seres espirituais que vão além do mandado bíblico (Wiebe, 2020).

O grego «á1⁄4ÏÏωÎ1⁄2» (archÅçn), utilizado para descrever Satanás como um «governante» ou «príncipe», tem sido por vezes mal interpretado no sentido de implicar que Satanás tem autoridade legítima sobre o mundo, em vez de ser um usurpador cujo poder está, em última análise, sujeito à soberania de Deus.

À medida que confrontamos estes equívocos, devemos lembrar que a nossa compreensão das realidades espirituais é sempre limitada e moldada pelo nosso contexto cultural. Devemos abordar estes assuntos com humildade, sempre prontos a reexaminar nossas suposições à luz da Escritura e da tradição.

Gostaria de advertir contra tornar-se excessivamente focado nos detalhes da demonologia. Embora a compreensão da linguagem bíblica sobre Satanás possa ser valiosa, o nosso foco principal deve ser sempre o amor de Deus e a vitória de Cristo sobre todas as forças do mal.

Lembremo-nos também do impacto psicológico de como falamos sobre Satanás. A linguagem exagerada ou sensacionalista pode provocar medo ou obsessão desnecessários, distraindo-se da mensagem central do Evangelho.

Embora existam equívocos sobre Satanás com base em mal-entendidos dos termos gregos, eles não precisam definir a nossa fé. Esforcemo-nos por uma compreensão equilibrada e biblicamente fundamentada, lembrando sempre que em Cristo não temos nada a temer dos poderes das trevas. O nosso apelo não é para sermos peritos no mal, mas para sermos testemunhas da luz do amor e da verdade de Deus no mundo.

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