Vidro nas Escrituras: O que simboliza?




  • O vidro era raro e valioso nos tempos bíblicos, muitas vezes simbolizava a pureza, a santidade e a sabedoria divina.
  • Diferentes usos do vidro incluíam vasos, jóias, garrafas lacrimais e vidraças iniciais, refletindo a vida e a cultura da época.
  • O «mar de vidro» no Apocalipse simboliza a santidade, a paz e o triunfo dos crentes sobre o mal.
  • Na Nova Jerusalém, as qualidades de vidro representam a pureza última, a glória divina e a promessa de compreensão clara na eternidade.

Quero que pensem numa coisa hoje. Vidro. Está à nossa volta, não está? Vê-se nas janelas, bebe-se de copos de vidro, olha-se para os ecrãs. É apenas uma parte do nosso dia-a-dia. Mas quero levá-lo de volta, há milhares de anos, quando a Bíblia estava a ser escrita. Na altura, o vidro não era tão comum, não senhor. Era uma coisa especial. E quando Deus coloca algo especial na sua Palavra, sabe que está repleto de significado, de significado poderoso! Este artigo vai levar-nos numa viagem emocionante para explorar aqueles tempos únicos em que o vidro aparece na Bíblia. Vamos descobrir o que simbolizava para as pessoas há muito tempo e que lições espirituais maravilhosas Deus tem para nós, hoje mesmo!

É bom recordar que o «vidro» que os escritores da Bíblia conheciam nem sempre era o material perfeitamente claro e fabricado na fábrica que temos hoje. Por vezes, no Antigo Testamento, a palavra hebraica que usavam podia ser algo mais parecido com cristal de rocha – super valioso porque era tão raro e bonito. E oiçam isto: quando a Bíblia menciona um «vidro» para ver o seu reflexo, normalmente significa um espelho feito de metal brilhante e polido, não os espelhos de vidro transparente que usamos.1 Compreender como era o vidro naqueles tempos antigos é tão importante quanto nos preparamos para explorar todas as coisas incríveis que simboliza.

Vidro no Mundo Antigo – Uma Janela para os Tempos Bíblicos

Para compreender verdadeiramente por que razão Deus usa o vidro para nos ensinar verdades espirituais na Bíblia, é tão útil saber um pouco sobre a sua história e a forma como as pessoas nos tempos antigos pensavam sobre ela. A forma como o vidro se parecia e quanto valia a pena quando a Bíblia estava a ser escrita – esse é o fundamento para compreender os símbolos poderosos em que se tornou.

Como era o vidro quando a Bíblia foi escrita?

Pode ficar surpreso ao ouvir que o vidro existe há muito, muito tempo! Os arqueólogos, essas pessoas inteligentes que desenterram o passado, encontraram provas de que as pessoas faziam vidro no antigo Egito e na Mesopotâmia (que é a área onde o Iraque e a Síria estão hoje) há muito tempo atrás, e talvez até antes disso!1 Os egípcios eram realmente hábeis em fazer todo o tipo de coisas de vidro, como garrafas, belos vasos e decorações sofisticadas.1 Isto significa que o vidro era conhecido muito antes e mesmo durante o tempo de Moisés e essa incrível viagem do Êxodo!

Durante muitos, muitos anos, as coisas de vidro foram feitas utilizando métodos como a formação do núcleo (que é como envolver o vidro derretido em torno de um núcleo arenoso e argiloso) ou a fundição (derramar o vidro derretido em moldes). Estas formas de fazer vidro exigiam muito trabalho árduo e, por causa disso, o vidro era muitas vezes visto como um luxo, algo que apenas as pessoas ricas podiam pagar.

Mas depois, uma grande mudança aconteceu por volta do século I a.C.. Alguém inventou o sopro de vidro, provavelmente na região sírio-palestina (que inclui locais como Israel, Líbano e Síria hoje).2 Esta nova técnica surpreendente significava que os fabricantes de vidro podiam fazer vasos muito mais rápidos e em todos os tipos de novas formas. O sopro de vidro espalhou-se até Roma e, depois de algum tempo, o vidro tornou-se mais comum e mais fácil de obter, embora as peças de alta qualidade ainda fossem muito valiosas.2 A Fenícia, uma área na costa do Mediterrâneo perto do antigo Israel, tornou-se um lugar super importante para fazer vidro, em parte porque tinha toneladas de areia que era perfeita para isso.1

O vidro antigo nem sempre foi o material perfeitamente claro a que estamos habituados. Às vezes, pequenos pedaços de outras coisas nas matérias-primas davam-lhe uma cor esverdeada ou arroxeada.1 Mas esses artesãos antigos ficaram muito, muito bons, e podiam fazer vidro em todos os tipos de cores, e até mesmo algum vidro claro e transparente também.1

Para que as pessoas usavam o vidro nos tempos bíblicos? Bem, deixa-me dizer-te:

  • Navios: No vidro era usado para fazer recipientes como garrafas, copos e frascos. Estes eram frequentemente usados para servir alimentos e bebidas, para armazenar e transportar coisas como vinho ou azeite através do grande Mar Mediterrâneo, ou para manter perfumes e pomadas caros.
  • Jóias e ornamentos: As pessoas também faziam pequenos itens de vidro, como contas, anéis, pulseiras e até mesmo tornozelos.
  • Garrafas de rasgo: Este é único! Encontraram estes pequenos frascos de vidro em túmulos, chamados «garrafas de lágrimas». Acredita-se que, quando as pessoas estavam tristes e de luto, recolheriam as suas lágrimas nestas garrafas e, em seguida, estas garrafas foram enterradas com a pessoa que faleceu como sinal de amor e profunda tristeza.1
  • Painéis de janela: As vidraças começaram a aparecer no início do período imperial romano (por volta da época de Jesus e dos seus apóstolos). Eles eram usados principalmente em edifícios públicos, como casas de banho, mais para manter as correntes de ar frias e para a segurança do que para dar uma visão perfeitamente clara do que estava fora.

A Bíblia usa palavras específicas quando fala de vidro. No Antigo Testamento, a palavra hebraica é zekukith, e podes encontrá-lo em Jó 28:17. Algumas Bíblias mais antigas traduzem isto como «cristal», mas muitos estudiosos inteligentes acreditam que está a falar de um tipo de vidro ou de um mineral claro, semelhante ao vidro, que foi super valorizado por ser tão claro.1 Então, no Novo Testamento, a palavra grega para vidro é hualos, e se algo fosse «vidro» ou «feito de vidro», a palavra era hualinos.1

Mas é tão importante saber que isso é diferente do que a Bíblia chama de "vidro de olhar" ou espelho. Quando lemos passagens como 1 Coríntios 13:12 ou Tiago 1:23, e eles falam em ver o nosso reflexo num «vidro», estão a falar de espelhos feitos de metal brilhante e polido, geralmente bronze.1 Estes espelhos de metal poderiam mostrar uma imagem que teria sido muito mais fraca e não tão nítida como a que vemos nos nossos espelhos de vidro modernos.6 Esta diferença é uma grande chave para compreender alguns dos símbolos surpreendentes da Bíblia.

A viagem do vidro, de ser este raro, muitas vezes colorido ou não tão claro item de luxo para algo mais comum que poderia ser feito com maior clareza, é realmente importante. Naqueles tempos anteriores, o quão raro era e a incrível habilidade necessária para torná-lo super valioso, assim como vemos no livro de Jó. Mais tarde, à medida que melhoraram em fazê-lo, especialmente quando o sopro de vidro surgiu durante os tempos do Novo Testamento, a chance de ter vidro mais claro e transparente ficou muito melhor. Este desenvolvimento pode ter aumentado ainda mais o seu poder simbólico! Embora ainda fosse valioso, a sua clareza e a forma como deixava a luz brilhar poderiam representar mais facilmente ideias espirituais maravilhosas, como a pureza, a santidade e o brilho brilhante da glória de Deus – e estes são grandes temas no Novo Testamento, especialmente nesse incrível livro de Apocalipse.7

E pensem nisto: à medida que o vidro se tornava mais comum no Império Romano, incluindo na Palestina, onde Jesus e a igreja primitiva viviam e ministravam, usá-lo em símbolos bíblicos teria realmente conectado com a vida quotidiana das pessoas.2 Os escritores bíblicos utilizavam frequentemente coisas familiares da vida quotidiana — como a agricultura, a pesca ou as coisas à volta de casa — para explicar verdades espirituais. Assim, utilizando algo como vidro para descrever maravilhas celestiais, como o «mar de vidro» ou uma «cidade como vidro transparente», podiam ligar-se ao seu público. Estas imagens seriam um pouco familiares (as pessoas sabiam o que era o vidro) mas, ao mesmo tempo, totalmente surpreendentes por causa do tamanho e perfeição que descreveram. Isso tornou as visões divinas reais e fora deste mundo incríveis!

Quão precioso era o vidro nos tempos do Antigo Testamento? (Concentrar-se em Jó 28:17)

Uma das mais poderosas menções do Antigo Testamento de vidro (ou um material semelhante a um cristal) é encontrada no livro de Jó. Muitos sábios acreditam que Jó é um dos livros mais antigos de toda a Bíblia! No capítulo 28 de Jó, o escritor nos dá este belo poema sobre como as pessoas procuram coisas valiosas. Ele descreve como as pessoas vão a comprimentos incríveis, escavando profundamente, nas profundezas da terra, para extrair metais preciosos e pedras como prata, ouro, ferro, cobre e safiras.10

Depois de falar sobre todo este trabalho humano árduo para encontrar tesouros terrenos, o poema faz uma pergunta muito profunda: «Mas onde se pode encontrar a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento?» (Jó 28:12). Em seguida, o capítulo torna-o cristalino: A verdadeira sabedoria é muito mais valiosa do que qualquer uma dessas riquezas materiais. Não é possível comprá-lo com ouro ou prata.

E é precisamente aqui, neste contexto, que o vidro é mencionado: «O ouro ou o vidro não podem igualá-lo, nem podem ser trocados por objetos de ouro fino.» (Jó 28:17, NASB). Outras Bíblias utilizam a palavra «cristal» para essa palavra hebraica zekukith.10 Este versículo coloca o vidro (ou cristal) na mesma liga que o ouro - uma das coisas mais preciosas conhecidas no mundo antigo! O facto de tanto o ouro como o vidro não serem considerados suficientemente bons para igualar o valor da sabedoria diz-nos que o vidro, nos dias de Jó, era visto como extremamente precioso e altamente valorizado. zekukith na verdade, provém de uma palavra-raiz que significa «ser limpo» ou «puro», o que sugere que a sua clareza ou transparência foi uma grande parte do que a tornou tão valiosa12.

Esta comparação no trabalho 28 não tem apenas a ver com o custo do vidro; está lá por uma razão espiritual mais profunda. Estabelece um sistema de valores divinos em que coisas que não se podem tocar, qualidades espirituais como a sabedoria e o temor do Senhor (que Jó 28:28 diz ser a verdadeira sabedoria), são infinitamente mais preciosas do que até mesmo os materiais terrenos mais desejados.10 O vidro, ao ser incluído entre estes objetos de valor superior, age como uma vara de medida para o valor material, apenas para ser completamente ultrapassado pelo valor da sabedoria. Se algo tão caro como o vidro antigo ou o ouro parece pálido ao lado da sabedoria, então perseguir essa sabedoria - o que significa reverenciar a Deus e afastar-se do mal - é apresentado como a coisa mais importante que uma pessoa pode fazer. A raridade e a dificuldade de produzir vidro límpido de elevada qualidade nos tempos antigos teriam tornado esta comparação ainda mais poderosa para as pessoas que ouviram pela primeira vez a história de Job. Não se tratava apenas de uma pedra velha comparada com a sabedoria, um material apreciado pelos ricos e poderosos.

Aqui está uma forma rápida de ver uma visão geral do vidro nos tempos bíblicos:

AspectoDescrição nas Escrituras/HistóriaVersículos-chave da Bíblia
Material do Antigo Testamentohebraico zekukith; cristal provável ou material translúcido altamente valorizadoJó 28:17
Material do Novo Testamentogrego hualos (vidro), hualinos (vidro)Ap 4:6, 15:2, 21:18
Espelhos antigosMetal polido (bronze), vidro não transparente; reflexão fraca1 Cor 13:12, Tg 1:23
Valor inicial (OT)Raros e preciosos, comparáveis ao ouroJó 28:17
Indústria transformadora (era TN)O sopro de vidro (a partir de 1o a.C.) tornou-o mais comum e variadoN/A (dados históricos)
Usos comuns (era NT)Embarcações, artigos de mesa, ornamentos, algumas jóias; Mais tarde, vidraças de janelaN/A (dados históricos)

Este quadro ajuda a reunir tudo, preparando o terreno para compreendermos as diferentes formas como estes materiais são utilizados como símbolos poderosos na Palavra de Deus.

«Through a Glass, Darkly» – O nosso vislumbre do Divino

Um dos provérbios mais famosos da Bíblia que menciona «vidro» provém da primeira carta do apóstolo Paulo à igreja de Corinto. Fala sobre a forma como compreendemos as coisas espirituais nesta vida, em comparação com a forma como as compreenderemos na vida incrível que se avizinha.

O que Paulo quer dizer com "ver através de um copo, às escuras" (1 Coríntios 13:12)?

O versículo completo diz o seguinte: «Por enquanto, vemos apenas um reflexo como num espelho; Então, ver-nos-emos face a face. Agora sei-o em parte. então conhecerei plenamente, tal como sou plenamente conhecido.» (1 Coríntios 13:12, NVI). A boa e antiga versão King James traduz famosamente essa primeira parte como «Agora vemos através de um vidro, obscuramente.» A palavra grega para «espelho» aqui é esoptron.6

Para perceber o que Paulo está a dizer, temos de nos lembrar como eram os espelhos no seu tempo. Como já referimos, não eram feitos de vidro transparente e prateado como os nossos espelhos de hoje. Não, eram geralmente feitos de metal polido, como bronze ou talvez prata.1 E embora estes espelhos de metal pudessem mostrar um reflexo, esse reflexo era muitas vezes bastante ténue, um pouco distorcido, e simplesmente não tinha a nítida clareza que esperamos de um espelho hoje.6 A imagem podia ficar manchada facilmente ou apenas ser imperfeita. A palavra «darkly» na versão King James traduz uma frase grega en ainigmati, que significa «num enigma», «num enigma» ou «obscuramente» – como se algo fosse intrigante e pouco claro.14 Assim, Paulo diz-nos que a nossa correta compreensão das coisas espirituais é como olhar para um reflexo bastante pobre, intrigante e pouco claro num desses espelhos de metal antigos.

Paulo usa esta imagem poderosa para explicar que a nossa compreensão atual de Deus, dos seus incríveis planos divinos e das realidades do céu é incompleta e imperfeita.6 Nesta vida, «sabemos em parte». Recebemos vislumbres, obtemos pistas de que não podemos compreender plenamente a sabedoria infinita de Deus, a medida completa do seu incrível amor ou todos os pequenos pormenores dos seus propósitos eternos. As nossas mentes humanas, limitadas pela nossa natureza finita e pelos efeitos do pecado, simplesmente não conseguem absorver a plenitude destas verdades divinas Embora estejamos aqui nesta terra.6

Ouçam a esperança! Paulo contrasta este conhecimento obscuro e parcial com uma gloriosa promessa futura: «então ver-nos-emos face a face.» Esse «então» refere-se ao momento em que Cristo regressa, ou em que os crentes entram na presença espantosa de Deus na eternidade. Nesse momento, a nossa compreensão não será mais indireta ou difusa. Oh não! Será direta, completa e cristalina – como se estivéssemos a ver alguém «face a face» sob uma luz perfeitamente clara.6 Esse reflexo sombrio e intrigante desaparecerá, substituído por um conhecimento pleno, rico e íntimo de Deus. Esta é a maravilhosa esperança que todo cristão mantém: Um futuro onde todos os mistérios serão revelados, e vamos experimentar a perfeita comunhão e compreensão com o nosso incrível Criador.

Esta imagem de ver através de um espelho velho e imperfeito deve dar-nos um espírito de humildade, tanto espiritual como intelectualmente. Se até o apóstolo Paulo, que recebeu revelações tão profundas de Deus, admitiu que o seu conhecimento nesta vida era parcial e um pouco confuso, então hoje também devemos reconhecer que há limites para a nossa compreensão quando se trata dos mistérios mais profundos de Deus que Ele ainda não revelou totalmente.6 Saber isso nos ajuda a confiar mais na fé e a ansiar por esse futuro, revelação completa, em vez de pensar que podemos saber tudo perfeitamente agora.

A mudança de que fala Paul, de ver «através de um espelho obscuro» para ver «face a face», não se trata apenas de obter mais informações. Trata-se de uma transformação total em como saberemos. É uma mudança de uma compreensão indireta e filtrada para uma visão direta e imediata de Deus e da Sua verdade.6 Isto significa que, no nosso estado glorificado, a nossa própria capacidade de compreender será maravilhosamente reforçada, permitindo-nos perceber as realidades divinas de uma forma que é simplesmente impossível para nós agora. A promessa de que «o veremos tal como ele é» (1 João 3:2) aponta para esta transformação incrível.6

E é tão importante ver que Paulo fala sobre este conhecimento limitado em 1 Coríntios 13, que muitas vezes chamamos de «capítulo do amor». Ele contrasta a natureza temporária dos dons espirituais como a profecia (que dá conhecimento parcial) e o falar em línguas com a natureza duradoura e eterna do amor.6 O amor é mostrado como «o caminho mais excelente» (1 Coríntios 12:31), porque continuará a acontecer mesmo quando os nossos modos atuais e imperfeitos de conhecimento forem substituídos por um conhecimento perfeito e direto na eternidade. Enquanto o nosso compreensão de Deus mudará dramaticamente e tornar-se-á completo, o relacionamento com Deus e com os outros, que tem tudo a ver com o amor, é central e eterno. Assim, essa passagem de «ver através de um vidro obscuro» destaca realmente a imperfeição da nossa atual compreensão mental das coisas divinas e guia-nos a dar a máxima prioridade à parte relacional da nossa fé — o amor — que não é limitada da mesma forma e durará para sempre!

O «Mar de Vidro» em Apocalipse – Pureza Celestial e Majestade de Deus

O livro do Apocalipse, com suas incríveis, vívidas e simbólicas visões do céu, dá-nos algumas das imagens mais surpreendentes envolvendo vidro. O apóstolo João descreve um «mar de vidro» mesmo diante do trono de Deus, pintando um quadro de pureza inspiradora e do majestoso poder de Deus.

O que simboliza o «mar de vidro, claro como cristal» perante o trono de Deus (Apocalipse 4:6)?

Em sua visão da sala do trono celestial, João escreve: «E perante o trono havia como que um mar de vidro, como cristal.» (Revelação 4:6a, ESV).7 Este «mar de vidro» é um símbolo poderoso com muitas camadas de belo significado.

Quando é descrito como «claro como cristal», aponta para A pureza divina, a santidade e a perfeição absoluta.7 Cristal, de volta aos tempos antigos, era admirado porque era tão transparente e brilhante. As pessoas até pensaram que poderia ser uma forma de gelo perfeitamente congelado!19 Tal clareza surpreendente neste mar celestial mostra-nos a santidade absoluta da presença de Deus, um lugar onde nenhuma impureza, nenhuma mancha, nenhuma mancha pode existir.20 Reflete a natureza impecável e inacessível do próprio Deus.

A imagem de um "mar de vidro" sugere A paz perfeita, a quietude e a ordem divina.18 Pense nos mares terrestres – são muitas vezes selvagens, caóticos e imprevisíveis. Eram uma fonte de perigo e medo para as pessoas no mundo antigo.22 Mas, em contraste, este mar celestial é como vidro sólido, perfeitamente calmo e pacífico. Isto simboliza a tranquilidade e a paz inabalável que rodeia o domínio soberano de Deus e o seu reino celestial. É um contraste tão forte com a turbulência e a agitação que vemos no nosso mundo caído.8 Alguns comentadores sábios sugerem mesmo que pode representar o «piso» do céu ou uma fronteira que separa o reino divino de tudo o que Deus criou, refletindo lindamente a glória de Deus.8

Quando se combina a vastidão que a palavra «mar» traz à mente com a clareza perfeita de «vidro como cristal», apenas se grita do imensa majestade e esplendor da sala do trono de Deus.7 Faz parte do cenário de tirar o fôlego que rodeia a adoração de Deus no céu e destina-se a encher-nos de temor e profunda reverência.8

Esta imagem de um mar calmo e cristalino diante do trono de Deus inverte poderosamente o antigo simbolismo comum do mar na sua cabeça. Em muitas passagens do Antigo Testamento e nas antigas culturas do Oriente Próximo, o mar representava frequentemente o caos, o abismo profundo ou forças e nações rebeldes que se opunham a Deus.22 Por exemplo, o poder criativo de Deus em Génesis 1 implicava pôr ordem nas águas caóticas, e nosso Senhor Jesus mostrou a Sua autoridade divina acalmando o mar tempestuoso da Galileia.23 Assim, o «mar de vidro» em Apocalipse mostra-nos que, na presença de Deus, tudo o que antes era caótico e ameaçador está agora perfeitamente subjugado, absolutamente imóvel e sob o Seu controlo total e total. É um símbolo poderoso da vitória final de Deus sobre todas as forças da desordem e da paz perfeita do seu reino eterno.

E há mais! Pense na qualidade reflexiva do vidro e do cristal. Uma enorme extensão tão clara como cristal mesmo diante do trono de Deus actuaria como um espelho magnífico, reflectindo e amplificando a luz e a glória divinas que brilham de Deus.8 Consegue imaginar? Isto criaria uma visão indescritivelmente bela e inspiradora, apenas ressaltando o esplendor e a majestade do Deus Todo-Poderoso.

Alguns intérpretes vêem também neste «mar de vidro» uma imagem do Os conselhos de DeusOs seus planos eternos de justiça e de amor. Tal como o mar pode ser incrivelmente profundo, sugerindo mistério, a sua clareza de vidro diz-nos que os planos de Deus, embora por vezes muito além do nosso pleno entendimento humano na sua profundidade, são, em última análise, puros, justos e perfeitamente claros na sua origem e propósito divinos.19 Não são obscuros, nem aleatórios, nem injustos. São perfeitos!

Qual é o significado de “mar de vidro misturado com fogo” (Apocalipse 15:2)?

Mais tarde, em suas visões surpreendentes, John vê uma variação desta imagem: «E vi o que parecia ser um mar de vidro misturado com fogo, e também aqueles que tinham conquistado a besta e a sua imagem e o número do seu nome, de pé no mar de vidro com harpas de Deus.» (Revelação 15:2, ESV).7 A adição de «fogo» a este «mar de vidro» traz novas camadas de simbolismo poderoso.

O fogo na Bíblia, muitas vezes é um símbolo de O juízo de Deus acerca do pecado e da maldade.7 Também pode representar Purificação e Refinação Divinas, porque as provações são muitas vezes comparadas a um fogo que prova e purifica a fé dos crentes (como em 1 Pedro 1:7).8

Assim, o «mar de vidro», que representa a santidade e a pureza de Deus, sendo «misturado com fogo», sugere, por conseguinte, o seguinte: combinação da santidade perfeita de Deus com o seu justo juízo contra o mal.7 Pode ser visto como uma imagem da justiça transparente de Deus revelada nos seus juízos sobre os ímpios.21 O fogo não destrói nem perturba a pureza do mar de vidro; em vez disso, mistura-se bem com ela, mostrando que os juízos de Deus são uma expressão da sua natureza santa. Porque Deus é perfeitamente puro e santo, deve Agir contra o pecado e a insensatez.

E aqui está uma parte poderosa: João vê aqueles que "conquistaram a besta" (que é um símbolo do mal, perseguição e poderes anti-Deus) de pé em Este mar de vidro misturava-se com o fogo. Estas imagens incríveis significam a sua triunfar sobre o mal e sua fé firme, uma fé que mantiveram mesmo através de provações ardentes e perseguição..7 Sofreram o "fogo" do sofrimento e permaneceram leais a Deus. A sua posição neste mar mostra a sua estabilidade e segurança, vindicadas por Deus, mesmo quando o seu juízo está a ser representado.

Alguns comentadores vêem aqui um paralelo com o Evento do êxodo21 Assim como os antigos israelitas foram salvos ao passar pelo Mar Vermelho Embora os egípcios que os perseguiam tenham sido destruídos por essas mesmas águas, os crentes também são levados em segurança através das provações deste mundo (simbolizados por esse mar ardente) para a presença de Deus, enquanto o julgamento, em última análise, recai sobre os inimigos de Deus. O mar de vidro é o lugar onde os redimidos estão na vitória, embora o fogo dentro dele possa simbolizar o julgamento que tem (ou vai) consumir aqueles que os oprimiram. Esta imagem destaca as intensas provações e o custo de seguir a Jesus para que os crentes possam enfrentar também o glorioso resultado da perseverança na fé: uma posição segura e triunfante na própria presença de Deus.

O «mar de vidro» refere-se a objetos do templo do Antigo Testamento?

Sim, sim! Muitos estudiosos e comentadores da Bíblia ligam este «mar de vidro» no Apocalipse a um item muito importante no Tabernáculo do Antigo Testamento e, mais tarde, no Templo de Salomão: os Prata de bronze, também designada por «mar fundido».19

No Tabernáculo, a pia era uma bacia de bronze cheia de água. Foi colocado entre o altar onde faziam holocaustos e a entrada para o Lugar Santo (pode-se ler sobre isso em Êxodo 30:18-21). No Templo de Salomão, tratava-se de uma bacia de bronze muito maior e mais belamente decorada, também chamada «mar» (1 Reis 7:23-26). Os sacerdotes tinham de lavar as mãos e os pés nesta pia antes de poderem ministrar perante o Senhor ou oferecer sacrifícios.21 Esta lavagem era absolutamente essencial para a sua pureza cerimonial e para a sua capacidade de se aproximarem de Deus.

Se o «mar de vidro» no céu é a contrapartida divina desta pia terrena do templo, simboliza o limpeza e purificação definitivas e perfeitas que é necessário para estar na presença santa de Deus.19 No Novo Pacto, esta limpeza espiritual profunda não é alcançada apenas através de lavagens rituais com água através do precioso sangue sacrificial de Jesus Cristo, que purifica os crentes de todo o pecado!21 Por conseguinte, o «mar de vidro» pode apontar para a purificação completa e permanente que os crentes recebem através da fé em Cristo.

E é importante que, na visão celestial, este «mar» seja feito de vidro, não de água, e seja descrito como «como um cristal». Isto pode dizer-nos que, no céu, perante o trono de Deus, a necessidade contínua de purificação ritual do pecado desapareceu completamente, porque o próprio pecado estará totalmente ausente!24 O objetivo da limpeza foi perfeita e eternamente cumprido através de Cristo. A mudança de uma pia de bronze cheia de água (que era terrena, temporária e precisava ser usada repetidas vezes) para um «mar de vidro como cristal» (que é celestial, permanente e representa a pureza perfeita alcançada) mostra lindamente como os rituais do Antigo Pacto encontram o seu cumprimento final e são elevados a um nível mais elevado na realidade do Novo Pacto da obra acabada de Cristo.

Algumas interpretações também ligam a pia, e por extensão este mar de vidro, a A Palavra de Deus, porque a água é frequentemente usada nas Escrituras como um símbolo do poder purificador da Palavra (como em Efésios 5:26, «a lavagem da água pela palavra»).27 Se a olharmos desta forma, o mar de vidro, como um fundamento firme e cristalino, poderia simbolizar a pureza, a clareza, a estabilidade e a verdade fundamental da Palavra de Deus, sobre a qual os crentes estão firmemente na Sua presença.27 Que fundamento firme é este!

A Nova Jerusalém - Uma Cidade de Glória Radiante e Transparente

O simbolismo do vidro atinge um pico absolutamente magnífico na descrição do livro do Apocalipse da Nova Jerusalém, a cidade eterna de Deus. Aqui, as qualidades de vidro são utilizadas para retratar a beleza inimaginável da cidade, a sua pureza perfeita e o seu brilho divino e brilhante.

Como o vidro aparece na descrição da Nova Jerusalém (Apocalipse 21)?

A visão do apóstolo João da Nova Jerusalém está cheia de imagens de pedras e metais preciosos, todos descritos com um brilho que está fora deste mundo. E o vidro, ou qualidades como a transparência e a clareza cristalina, são a chave para esta descrição surpreendente:

  • A cidade do ouro puro, como o vidro transparente: João escreve: «A parede era feita de jaspe e a cidade de ouro puro, tão pura como vidro transparente.» (Apocalipse 21:18, NLT). Outras Bíblias dizem "como vidro transparente" ou "como vidro transparente".1 que é uma imagem notável: O ouro, um metal que conhecemos por ser sólido e algo que não se consegue ver através da terra, é descrito no céu como sendo tão claro e transparente como o vidro mais puro!
  • Ruas de ouro, como o vidro transparente: Do mesmo modo, a rua principal da cidade é descrita com o mesmo paradoxo surpreendente: «A grande rua da cidade era de ouro, tão pura como vidro transparente.» (Revelação 21:21b, NLT).1
  • Light Like a Jasper Stone, Clear as Crystal (em inglês). O brilho total da cidade também é comparado à pedra transparente mais pura: «Ele brilhava com a glória de Deus, e o seu brilho era como o de uma pedra muito preciosa, como um jaspe, claro como cristal.» (Apocalipse 21:11, NVI).20

Estas descrições utilizam materiais que conhecemos da terra — ouro e jaspe — mas dão-lhes qualidades sobrenaturais que são simplesmente impossíveis no nosso mundo de hoje. Ouro transparente como o vidro? Isso é algo para além do que podemos sequer imaginar!31 Este mesmo paradoxo está aí para nos mostrar que a Nova Jerusalém não é apenas uma cidade terrena reconstruída. Não, é uma realidade construída por Deus, de uma ordem completamente diferente, e tem qualidades que vão muito além do nosso mundo físico. Significa algo incrivelmente precioso (como o ouro) combinado com perfeita pureza e santidade (como vidro transparente ou cristal).

A transparência descrita em toda a parte — ouro como vidro, luz clara como cristal — sugere que a glória de Deus, que é a verdadeira luz da cidade (Apocalipse 21:23 nos diz que a cidade não precisa de sol ou lua, «porque a glória de Deus lhe dá luz, e o Cordeiro é a sua lâmpada»), brilha através de cada parte dela.30 Se os próprios materiais da cidade fossem transparentes, esta luz divina brilharia através de tudo, sem deixar lugares escondidos, sem sombras, apenas luz pura e radiante. Isto simboliza um estado de absoluta santidade, verdade e abertura, onde tudo é revelado e banhado pela presença gloriosa de Deus.

O que este ouro transparente, semelhante a vidro, nos diz sobre o céu?

Esta descrição única da Nova Jerusalém, especialmente do seu ouro transparente e em forma de vidro, revela algumas verdades incrivelmente poderosas sobre como é o céu e como será a vida eterna na presença de Deus:

  • Pureza e Santidade: A transparência dos materiais da cidade, especialmente o facto de o ouro ser «como vidro transparente», significa um estado de pureza absoluta, completamente livre de qualquer pecado, de qualquer contaminação ou de qualquer imperfeição.7 Trata-se de uma imagem visual da santidade perfeita do próprio Deus, que aí vive, e da santidade dos redimidos, os seus filhos, que viverão nessa cidade.
  • Glória Divina e Radiância: A cidade é descrita como reluzente com a própria glória de Deus.20 As qualidades transparentes e joias da sua construção permitem que esta glória divina brilhe para o exterior sem que nada a bloqueie. Tudo na Nova Jerusalém está cheio e iluminado pela luz de Deus, tornando-a um local de beleza deslumbrante e inimaginável.30
  • Perfeição e Incorruptibilidade: O ouro, como o conhecemos na terra, é famoso por não manchar ou decair. é um símbolo de algo que dura e tem valor duradouro. Quando se combina essa qualidade com a perfeita clareza e pureza do vidro ou do cristal, sugere-se a natureza eterna, imutável e perfeita do reino celestial de Deus.20
  • A Verdade e a Abertura: A transparência é também um símbolo natural da verdade, da honestidade e da abertura. Na cidade eterna de Deus, não pode haver engano, nem trevas ocultas, nem mentiras. Tudo está aberto, tudo é conhecido e tudo é banhado à luz da verdade perfeita de Deus32.
  • A segurança e a beleza insuperável: Estas descrições de tirar o fôlego da Nova Jerusalém destinam-se a confortá-lo e inspirá-lo, meu amigo. Pintam um quadro de uma casa eterna que é não só perfeitamente segura, mas também bela, para além de qualquer coisa que possamos imaginar — um lugar onde o povo de Deus viverá com segurança e alegria na sua presença gloriosa para todo o sempre.30

As tentativas de John de descrever estas realidades celestiais com palavras terrenas como «ouro» e «vidro» estendem realmente a nossa linguagem até aos seus limites.31 Está a tentar falar-nos da inimaginável perfeição, beleza e santidade do céu, utilizando as coisas mais preciosas e puras que conhecemos da nossa experiência humana, elevando-as depois a um nível sobrenatural que apenas aponta para uma glória muito além do que podemos compreender neste momento.

O que os Padres da Igreja Ensinaram Sobre o Vidro nas Escrituras

Aqueles primeiros líderes e teólogos cristãos, os que muitas vezes chamamos de Padres da Igreja (que escreveram de cerca do 1o ao 8o séculos dC), também pensaram e oraram sobre o significado do vidro nas Escrituras. Muitas vezes procuravam significados espirituais mais profundos (como alegoria e tipologia) no texto bíblico. E a forma como interpretavam o termo «vidro» dependia frequentemente da passagem bíblica específica para a qual estavam a olhar.

Como os primeiros líderes cristãos interpretaram o simbolismo do vidro?

  • Em Jó 28:17 (O Valor da Sabedoria):  Quando olharam para Jó 28:17, onde a sabedoria é mais valorizada do que o ouro e o "vidro" (ou "cristal"), os Padres da Igreja e os comentaristas posteriores que aprenderam com eles sempre enfatizaram o ponto principal dessa passagem: A verdadeira sabedoria, que em última análise significa temer ao Senhor e afastar-se do mal, é muito mais preciosa do que qualquer riqueza material.10 Jerónimo (que viveu por volta de 347-420 d.C.), que traduziu a Bíblia para o latim (a chamada Vulgata), traduziu a palavra hebraica zekukith como vitrum, que significa «vidro».12 O entendimento era claro: mesmo materiais super-valorosos como ouro e vidro/cristal eram apenas insignificantes em comparação com o valor supremo da sabedoria divina.
  • Em 1 Coríntios 13:12 («através de um vidro escuro»):  Esta passagem sobre a nossa compreensão limitada nesta vida recebeu muita atenção deles.
  • João Crisóstomo (cerca de 349-407 AD), que era um pregador famoso e arcebispo de Constantinopla, explicou que ver «através de um vidro (espelho) obscuramente» realmente destaca o quão parcial, indefinido e pouco claro é o nosso conhecimento atual de Deus.14 Sublinhou que o antigo espelho metálico dava uma reflexão imperfeita e intrigante (enigmática), e Paulo usou isso para mostrar o quão limitada é a nossa visão espiritual neste momento em comparação com o conhecimento claro e direto «face a face» que teremos no futuro15.
  • Tertuliano (cerca de 155-220 AD), um dos primeiros escritores em latim, também apontou para este versículo para confirmar a qualidade intrigante e indireta de como vemos as coisas divinas agora.14 O entendimento geral destes primeiros Padres era que a analogia do espelho de Paulo mostrava poderosamente a incompletude do conhecimento humano sobre Deus nesta vida terrena. Foi um apelo à humildade e um profundo anseio pela perfeita clareza da vida que está por vir.
  • Sobre o «Mar de Vidro» da Revelation:  Esse "mar de vidro" em Apocalipse 4:6 e 15:2 desencadeou todos os tipos de interpretações:
  • André de Cesareia (cerca de 563-637 AD), que era um importante comentador grego sobre o Apocalipse, viu o «mar de vidro como cristal» (Apocalipse 4:6) como representando «a multidão dos poderes sagrados (anjos) e também a clareza, a impecabilidade e a calma da vida futura».35
  • Agostinho (354-430 d.C.), um dos teólogos mais influentes do Ocidente, embora não tenhamos citações diretas dele sobre esta imagem específica no material fornecido, ele era conhecido pela sua abordagem alegórica. Os comentadores sugerem que, se Agostinho o estivesse a ler, veria o mar calmo e de vidro como representando os «conselhos de Deus, os propósitos de justiça e de amor, muitas vezes insondáveis e nunca obscuros», e ligá-lo-ia ao Salmo 36:6 («Os teus juízos são como o grande abismo»).19
  • Beda (cerca de 673-735 AD), um monge e estudioso inglês, escreveu um comentário muito importante sobre o Apocalipse. Geralmente, via a Revelação não como um calendário literal dos acontecimentos futuros, mas como uma reflexão simbólica sobre a batalha espiritual em curso da Igreja no mundo.36 Recorreu a Padres anteriores como Agostinho e Ticónio. Embora a sua interpretação específica do «mar de vidro» não seja aqui pormenorizada, a sua forma simbólica de olhar para as coisas provavelmente enfatizaria a sua ligação à pureza divina e à presença impressionante de Deus.
  • Vitorino de Pettau (que morreu por volta de 304 dC), escreveu o mais antigo comentário latino sobre o Apocalipse que ainda temos. Interpretou frequentemente os seus símbolos de uma forma milenarista com alguma alegoria.37 Comentadores posteriores, com base nestas tradições primitivas, observaram o mar de vidro como estando sob o trono de Deus, claro como cristal, falando de pureza, e talvez até mesmo ligado às águas purificadoras da pia do templo ou mesmo ao batismo.19
  • Muitos Padres e escritores posteriores ligaram o «mar de vidro» ao Prata do templo do Antigo Testamento (o «mar fundido»). Esta pia era usada pelos sacerdotes para purificação ritual. Assim, o celestial "mar de vidro" era visto como simbolizando a pureza perfeita, o sangue purificador de Cristo, ou as águas do batismo. Espírito Santo, cujo trabalho é, por vezes, simbolizado pela água e pelo fogo, ou como o Evangelho a si mesma, que é clara e revela a glória de Deus.19

Sobre a «Cidade de Vidro» em Revelação (Nova Jerusalém):

  • Orígenes (cerca de 184-253 dC), um teólogo grego primitivo conhecido por suas interpretações alegóricas, advertiu as pessoas contra formas excessivamente literais ou materialistas de compreender a descrição da Nova Jerusalém (Apocalipse 21-22).39 Ele argumentou que as pedras preciosas, as paredes de jaspe e o ouro transparente devem ser compreendidos espiritualmente. Afirmou que apontam para a Igreja como uma casa espiritual construída com «pedras vivas», em vez de uma cidade física com joias literais39.

Algumas coisas-chave destacam-se de como os Padres da Igreja interpretaram essas coisas. Havia muitas vezes esta dinâmica vai-e-vem entre leituras literais e alegóricas (simbólicas), especialmente para livros proféticos como Apocalipse. Pensadores como Orígenes realmente pressionaram por interpretações espirituais para ajudar as pessoas a evitar mal-entendidos carnais das promessas celestiais.39 Muitas destas interpretações iniciais, mesmo de coisas como "vidro", acabaram por apontar para Jesus Cristo (sua pureza, seu sangue purificador) ou para a Igreja (a reunião dos puros, o templo espiritual construído pelos crentes). Isto mostra uma forma consistente centrada em Cristo e centrada na Igreja de ler todas as Escrituras. Por último, os Padres salientaram frequentemente a forma como o simbolismo do Antigo e do Novo Testamento ligava, por exemplo, o «mar de vidro» à pia do templo do Antigo Testamento. Tal demonstrou a sua compreensão do plano de salvação de Deus em curso, em que as realidades do Novo Pacto cumprem e levantam os tipos e sombras do Antigo Pacto. Faz tudo parte do incrível plano de Deus!

Conclusão: Ver Além da Reflexão

o simbolismo do vidro nas Escrituras, embora não seja mencionado em todas as páginas, é extraordinariamente rico e tem tantas facetas maravilhosas. Começa no Antigo Testamento, onde o vidro ou cristal está ao lado do ouro como uma medida de valor terreno extremo, apenas para ser completamente ultrapassado pelo valor incomparável da sabedoria divina (Jó 28:17). Em seguida, no Novo Testamento, um antigo espelho de metal, ou «vidro», torna-se uma poderosa metáfora para a nossa compreensão atual, fraca e imperfeita das realidades espirituais. Mas isso contrasta com o conhecimento perfeito e presencial que está à espera de cada crente na eternidade (1 Coríntios 13:12). Que promessa!

Depois, naquelas visões de tirar o fôlego da Revelação, o vidro assume o seu papel simbólico mais glorioso. O «mar de vidro, límpido como cristal», mesmo diante do trono de Deus, fala da santidade espantosa, da pureza perfeita e da serena majestade da presença de Deus (Apocalipse 4:6). Quando este mar é «misturado com fogo», pinta um quadro da combinação da santidade de Deus com o seu justo julgamento e a posição triunfante dos crentes que passaram por provações ardentes e saíram vitoriosos (Apocalipse 15:2). E, por último, a própria Nova Jerusalém, a cidade eterna de Deus, é descrita com materiais de beleza e pureza inimagináveis — o seu próprio ouro é «como vidro transparente» — o que significa um reino completamente permeado pela glória de Deus, livre de todas as imperfeições e radiantemente belo (Apocalipse 21).

Estas imagens antigas de vidro são muito mais do que apenas factos históricos ou descrições bonitas. Eles continuam a falar poderosamente à nossa fé hoje, exatamente onde estamos. Recordam-nos:

  • O santidade insondável e esplendor majestoso do nosso Deus. Ele é espantoso!
  • O Pureza e Paz Perfeitas que enchem o seu reino celestial.
  • O acarinhada promessa de clareza futura, Quando a nossa compreensão parcial abrir caminho para a plena e direta comunhão com o nosso incrível Criador.
  • O apelar às nossas próprias vidas Buscar a pureza, viver com transparência e refletir a luz de Cristo em um mundo que muitas vezes parece sombrio e confuso.

À medida que pensamos no significado de «vidro nas Escrituras», que o nosso temor a Deus se aprofunde cada vez mais. Que vos encoraje a incrível esperança do que está por vir. E que vos inspire a viver como um reflexo mais claro do Seu amor e da Sua verdade, aguardando com expectativa aquele dia maravilhoso em que deixaremos de ver vagamente «face a face», vivendo para sempre na Sua presença gloriosa e cheia de luz. Deus tem coisas maravilhosas reservadas para ti!

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