A palavra "religião" aparece na Bíblia?
À medida que exploramos esta questão, devemos abordá-la com contexto histórico e discernimento espiritual. A palavra «religião», tal como a entendemos hoje, não aparece nos textos originais hebraicos e gregos da Bíblia da mesma forma que a utilizamos na linguagem moderna. Mas isto não significa que o conceito de religião está ausente das Escrituras.
No Novo Testamento, em especial na versão King James, encontramos a palavra «religião» usada algumas vezes, principalmente no livro de Atos e na Epístola de Tiago. Por exemplo, em Atos 26:5, o apóstolo Paulo fala da «seita mais forte da nossa religião» quando se refere ao seu passado como fariseu (Vevyurko, 2024). Do mesmo modo, em Tiago 1:26-27, lemos sobre a «religião pura e imaculada perante Deus» (Goldenberg, 2019).
Mas devemos compreender que estas traduções são interpretações de palavras gregas que não correspondem precisamente ao nosso conceito moderno de religião. As palavras gregas utilizadas nestas passagens, como «thrÄ»skeia» (Î ̧ÏηÏÎÎÎÎÎμÎ ̄α), referem-se mais precisamente a expressões externas de culto ou piedade do que a um sistema organizado de crenças (Vevyurko, 2024).
Devo enfatizar que a nossa compreensão moderna da religião como uma categoria distinta da actividade humana e crença é em grande parte um produto do pensamento ocidental pós-iluminista. O mundo antigo, incluindo os autores bíblicos, não concebeu necessariamente a «religião» como uma esfera de vida distinta da cultura, da política ou da existência quotidiana.
Psicologicamente, poderíamos dizer que aquilo a que agora chamamos «religião» estava tão profundamente integrado na visão de mundo dos autores bíblicos e das suas audiências que não tinham necessidade de a designar como um conceito separado. A fé deles não era compartimentada, mas era um modo de vida abrangente.
Por conseguinte, embora a palavra «religião», tal como a entendemos hoje, possa não aparecer nos textos bíblicos originais, os conceitos de fé, culto e relação com o divino são indubitavelmente centrais para a narrativa bíblica. Lembremo-nos de que a essência de nossa fé transcende categorias linguísticas e construções culturais. O mais importante não é a presença ou ausência de uma determinada palavra, mas a realidade viva do amor de Deus e a nossa resposta a ele.
Como o conceito de religião é descrito na Bíblia?
Embora a Bíblia possa não utilizar o termo «religião» da forma como o compreendemos hoje, apresenta uma vasta rede de ideias que englobam aquilo a que agora chamamos religião. À medida que exploramos este conceito, vamos abordá-lo com o coração de um crente e a mente de um estudioso.
No Antigo Testamento, aquilo a que podemos chamar «religião» é frequentemente descrito em termos de relação de aliança entre Deus e o seu povo. Esta relação é caracterizada pela fé, obediência e adoração. A Bíblia hebraica fala de "servir ao Senhor" (Josué 24:14), "andar nos caminhos de Deus" (Deuteronómio 10:12) e "temer ao Senhor" (Provérbios 1:7). Estas frases resumem o que hoje podemos chamar de prática religiosa e devoção.
Passando para o Novo Testamento, vemos uma mudança na ênfase. Jesus frequentemente criticava as práticas religiosas de seu tempo, não para aboli-las, mas para revelar seu verdadeiro propósito. Em Mateus 23, por exemplo, critica aqueles que se concentram em observâncias religiosas externas, negligenciando «as questões mais importantes da lei: justiça, misericórdia e fé» (Mateus 23:23) (Vevyurko, 2024).
O apóstolo Paulo, nas suas cartas, desenvolve ainda mais esta compreensão. Ele fala da fé em Cristo como uma relação transformadora, em vez de uma mera adesão às regras religiosas. Em Gálatas 2:20, ele belamente expressa isto: «Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim.»
Talvez uma das descrições mais explícitas daquilo a que podemos chamar «verdadeira religião» provenha da Epístola de Tiago. Em Tiago 1:27, lemos: «A religião pura e imaculada perante Deus Pai é esta: visitar órfãos e viúvas na sua aflição e manter-se livre do mundo» (Goldenberg, 2019). Esta passagem ressalta que a fé autêntica se expressa através da ação compassiva e da integridade moral.
Tenho notado que o conceito bíblico de religião vai além da crença cognitiva ou da observância ritual. Engloba uma transformação holística da pessoa, que afeta as emoções, o comportamento e as relações. Trata-se de uma experiência de fé vivida que afeta todos os aspetos do próprio ser.
Historicamente, devemos lembrar que os autores bíblicos escreviam num contexto em que o que chamamos de "religião" não era uma categoria separada da vida, mas estava entrelaçada com a cultura, a política e a existência diária. A sua compreensão da fé não era compartimentada, mas abrangente.
A Bíblia descreve o que chamamos de religião não como um conjunto de crenças ou práticas, mas como uma relação viva e dinâmica com Deus que transforma o crente e transborda em amor pelos outros. Trata-se de um modo de vida orientado para o divino, caracterizado pela fé, pelo amor e pela ação justa.
O que a Bíblia diz sobre as diferentes religiões?
No Antigo Testamento, vemos uma clara distinção feita entre a adoração do único Deus verdadeiro de Israel e as práticas politeístas das nações vizinhas. O primeiro mandamento, "Não terás outros deuses diante de mim" (Êxodo 20:3), define o tom desta devoção exclusiva. Os profetas muitas vezes criticavam os israelitas por adotarem as práticas religiosas de seus vizinhos, vendo isso como infidelidade à sua aliança com Deus (Vevyurko, 2024).
Mas a Bíblia também registra exemplos de respeito e até mesmo favor divino em relação a indivíduos fora da fé israelita. Considere a história de Rute, uma mulher moabita que abraçou o Deus de Israel, ou Ciro, o Persa, a quem Deus chama de "ungido" em Isaías 45:1, apesar de ser um seguidor do zoroastrismo.
No Novo Testamento, Jesus Cristo traz uma nova perspetiva. Ao afirmar seu papel único como o caminho para o Pai (João 14:6), Ele também mostra compaixão para com aqueles que estão fora da fé judaica, como a mulher samaritana (João 4) e o centurião romano (Mateus 8:5-13). A parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) desafia as estreitas fronteiras religiosas.
O apóstolo Paulo, em seu ministério aos gentios, se envolve com diferentes visões de mundo religiosas. Em Atos 17, vemo-lo dirigir-se aos atenienses, reconhecendo a sua religiosidade e usando-a como ponto de partida para anunciar o Evangelho (Vevyurko, 2024). Reconhece que todas as pessoas procuram Deus, mesmo que ainda não o tenham encontrado (Atos 17:27).
Devo salientar que os autores bíblicos estavam a escrever num contexto muito diferente das nossas sociedades pluralistas modernas. A sua principal preocupação era manter a identidade distinta do povo de Deus no meio das culturas circundantes, em vez de proporcionar uma abordagem sistemática da diversidade religiosa.
Psicologicamente, podemos observar que a Bíblia reconhece a inclinação humana universal para o transcendente. Afirma que todas as pessoas são criadas à imagem de Deus e têm um sentido inato do divino, mesmo que expresso através de diferentes formas religiosas.
Mas temos também de reconhecer que a Bíblia mantém uma convicção clara sobre a singularidade da revelação de Deus em Cristo. Embora respeite a sinceridade de outras crenças, chama todas as pessoas a encontrarem a sua realização definitiva nEle.
Em nosso contexto moderno, este testemunho bíblico desafia-nos a equilibrar a firme convicção em nossa própria fé com o compromisso respeitoso com aqueles de diferentes crenças. Somos chamados a testemunhar o amor de Cristo, reconhecendo simultaneamente a imagem de Deus em cada pessoa, independentemente da sua origem religiosa. Este equilíbrio exige que escutemos e compreendamos várias perspetivas, incluindo a forma como crenças específicas moldam as identidades individuais. Por exemplo, ao explorar As crenças das Testemunhas de Jeová explicadas, obtemos uma visão de uma interpretação distinta da fé que enfatiza a importância do evangelismo e da comunidade. Abraçar o diálogo promove o respeito mútuo e pode iluminar o terreno comum, ajudando-nos a crescer coletivamente em nossas jornadas espirituais. Compreender os princípios fundamentais dentro de uma Visão geral das crenças das Testemunhas de Jeová pode aumentar ainda mais o nosso apreço pelo seu compromisso com a interpretação bíblica e o envolvimento da comunidade. Ao reconhecer estas crenças distintas, cultivamos um ambiente onde discussões frutíferas podem surgir, conduzindo a ligações mais profundas e valores partilhados. Em última análise, tais compromissos podem ensinar-nos que, apesar das nossas diferenças, partilhamos uma humanidade comum que merece reconhecimento e respeito.
O cristianismo é considerado uma religião na Bíblia?
Esta pergunta toca a própria essência da nossa fé e como a compreendemos em relação ao conceito mais amplo de religião. À medida que exploramos isso, vamos abordá-lo com o fervor da fé e o discernimento da investigação acadêmica.
Temos de reconhecer que o termo «cristianismo» não aparece na própria Bíblia. Os seguidores de Jesus foram inicialmente chamados «cristãos» em Antioquia (Atos 11:26), mas este era um rótulo dado por outros e não uma autodesignação (Vevyurko, 2024). Os primeiros crentes referiam-se à sua fé como «O Caminho» (Atos 9:2, 19:9, 19:23), salientando-a como um caminho de vida e não como um conjunto de práticas religiosas.
No Novo Testamento, particularmente nos escritos de Paulo, vemos uma tensão entre o que podemos chamar de "religião" e a nova fé em Cristo. Paulo frequentemente contrasta as "obras da lei" com a fé em Cristo (Gálatas 2:16). Ele fala de uma transformação que vai além da observância religiosa para uma nova criação em Cristo (2 Coríntios 5:17).
O próprio Jesus muitas vezes desafiou as estruturas religiosas dos seus dias, não a aboli-las, mas a revelar o seu verdadeiro propósito. Ele criticou aqueles que seguiam as regras religiosas sem compreender seu espírito (Mateus 23:23-28). Seus ensinamentos enfatizavam uma relação direta e pessoal com Deus, em vez de mera adesão às práticas religiosas.
Historicamente, devemos compreender que os primeiros seguidores de Jesus não se viam como fundadores de uma nova religião. Entenderam a sua fé como o cumprimento das profecias judaicas e a continuação do pacto de Deus com Israel. Foi só com o tempo que o cristianismo desenvolveu estruturas e identidades religiosas distintas.
Tenho notado que o que chamamos de cristianismo na Bíblia é apresentado mais como uma relação transformadora com Deus através de Cristo do que um conjunto de crenças ou práticas religiosas. Trata-se de uma nova forma de ser, uma nova identidade em Cristo, em vez de adotar uma nova religião.
Mas temos também de reconhecer que, à medida que o cristianismo se espalhou e se desenvolveu, assumiu características que associamos à religião – culto comunitário, crenças partilhadas, códigos éticos e estruturas organizacionais. Estes aspectos, embora não sejam a essência da fé, foram importantes para moldar a identidade e a prática cristãs ao longo da história.
Em nosso contexto moderno, o cristianismo é classificado como uma religião. Mas talvez sejamos chamados a vê-lo como algo mais – uma fé viva, uma relação transformadora, um modo de vida centrado em Cristo. Muitas vezes sublinho que a nossa fé não é primariamente sobre regras ou rituais, mas sobre um encontro com a pessoa de Jesus Cristo que muda tudo.
Portanto, não nos contentemos apenas com a prática de uma religião, mas nos esforcemos para viver uma fé vibrante e que mude a vida. Que o nosso cristianismo não seja apenas um rótulo ou um conjunto de crenças, mas uma relação dinâmica com o Deus vivo que nos transforma a partir de dentro e transborda de amor pelos outros.
Desta forma, honramos a visão bíblica da fé como algo que transcende o que o mundo normalmente compreende como religião. Tornamo-nos testemunhos vivos do poder transformador do amor de Cristo, encarnando uma fé sempre antiga, mas sempre nova.
Como a Bíblia define a verdadeira religião?
Talvez a declaração mais explícita sobre a verdadeira religião na Bíblia venha da Epístola de Tiago. Em Tiago 1:27, lemos: «A religião pura e imaculada perante Deus Pai é esta: visitar órfãos e viúvas na sua aflição e manter-se livre do mundo» (Goldenberg, 2019). Este poderoso versículo enfatiza que a verdadeira religião não é meramente acerca de crenças ou rituais, mas acerca de ação compassiva e integridade moral.
Ao longo das Escrituras, vemos este tema ecoado. O profeta Miquéias resume lindamente o que Deus requer: "Fazer justiça, amar a bondade e andar humildemente com o teu Deus" (Mq 6:8). Aqui, a verdadeira religião é retratada como uma combinação de comportamento ético, relações compassivas e uma caminhada humilde com Deus.
O próprio Jesus, quando perguntado acerca do maior mandamento, respondeu com uma dupla resposta: amar a Deus de todo o coração, alma e mente, e amar o próximo de uma perspetiva bíblica, trata-se fundamentalmente de amor – amor a Deus e amor aos outros.
No Antigo Testamento, vemos uma crítica consistente das observâncias religiosas vazias. O profeta Isaías, ao falar em nome de Deus, diz: "Odeio, desprezo as vossas festas, e não me deleito nas vossas assembléias solenes... Mas desça a justiça como as águas, e a justiça como um ribeiro incessante" (Amós 5:21,24). Isto indica que a verdadeira religião não se trata de um espetáculo exterior, mas de um coração alinhado com a justiça e a justiça de Deus.
Tenho notado que o conceito bíblico da verdadeira religião envolve uma transformação holística da pessoa. Não se trata apenas de mudar as nossas crenças ou comportamentos, mas de uma reorientação fundamental de todo o nosso ser para Deus e para os outros. Envolve dimensões cognitivas, emocionais e comportamentais, afetando todos os aspetos da vida de uma pessoa.
Historicamente, devemos lembrar que os autores bíblicos escreviam num contexto em que a religião não era compartimentada, mas integrada em todos os aspectos da vida. A sua compreensão da verdadeira religião não era sobre aderir a um conjunto de crenças ou práticas, mas sobre viver em relação correta com Deus e com os outros em todas as áreas da vida.
No nosso contexto moderno, esta compreensão bíblica da verdadeira religião desafia-nos a ir além de uma fé compartimentada. Chama-nos a uma espiritualidade vivida que permeia todos os aspectos da nossa existência. A verdadeira religião, de acordo com a Bíblia, não se trata de mera observância ritual ou assentimento intelectual às doutrinas. Trata-se de uma relação transformadora com Deus que transborda em ação compassiva e vida ética.
Que religiões são mencionadas pelo nome na Bíblia?
No Antigo Testamento, encontramos numerosas referências às práticas politeístas dos vizinhos de Israel. A adoração de Baal, Asherah e Molech são frequentemente mencionados e condenados pelos profetas. Estas não eram «religiões» no sentido moderno, mas sim conjuntos de práticas e crenças cultuais associadas a divindades específicas.
O Novo Testamento, situado no contexto do Império Romano, faz referência a vários sistemas de crenças. Em Atos 17, encontramos Paulo engajando-se com filósofos epicuristas e estoicos em Atenas. Embora estas fossem escolas filosóficas em vez de religiões em si, abordaram questões fundamentais de existência e ética.
No mesmo capítulo, Paulo fala do «deus desconhecido» adorado pelos atenienses, reconhecendo os seus impulsos religiosos e redirecionando-os para a compreensão cristã de Deus. Este encontro ilustra a complexa paisagem religiosa do antigo mundo mediterrânico.
O judaísmo, é claro, está presente em toda a Bíblia, embora não seja referido como uma "religião", mas sim como a relação de aliança entre Deus e Israel. O próprio cristianismo emerge dentro deste contexto judaico, não inicialmente como uma religião separada, mas como um movimento centrado em Jesus como o Messias.
Devemos recordar que a principal preocupação da Bíblia não é catalogar ou analisar diferentes religiões, mas proclamar a relação amorosa de Deus com a humanidade. As menções de outros sistemas de crenças servem principalmente para contrastá-los com a adoração do único Deus verdadeiro.
Como Jesus fala sobre a religião nos Evangelhos?
Jesus muitas vezes criticou certas práticas religiosas do seu tempo, não para aboli-las, mas para revelar o seu significado mais profundo e chamar as pessoas a uma fé mais autêntica. Em Mateus 23, por exemplo, ele critica duramente os escribas e fariseus pela sua hipocrisia, dizendo: "Tu limpas o exterior do copo e do prato, mas no interior estão cheios de ganância e auto-indulgência" (Mateus 23:25). Isto não é uma rejeição da observância religiosa, mas um apelo à transformação interna para corresponder às práticas externas.
Em seu famoso Sermão da Montanha, Jesus reinterpreta e aprofunda os ensinamentos religiosos tradicionais. Afirma: «Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; Não vim para aboli-los, mas para cumpri-los" (Mateus 5:17). Aqui, Jesus não fala da religião como um sistema, mas da tradição viva da revelação de Deus a Israel.
As parábolas de Jesus desafiam frequentemente as atitudes religiosas convencionais. A parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) critica aqueles que priorizam a pureza ritual sobre a compaixão. A parábola do fariseu e do cobrador de impostos (Lucas 18:9-14) adverte contra a justiça própria na observância religiosa.
Talvez mais significativamente, quando perguntado sobre o maior mandamento, Jesus responde enfatizando o amor a Deus e ao próximo (Marcos 12:28-31). Isto sugere que, para Jesus, a essência daquilo a que podemos chamar «religião» não se encontra em rituais ou doutrinas, mas sim em relações de amor – com Deus e uns com os outros.
No nosso tempo, enquanto navegamos por paisagens religiosas complexas, podemos inspirar-nos no exemplo de Jesus para olhar para além das formas externas para o coração da fé – amor, compaixão e justiça. Esforcemo-nos, em todas as nossas expressões religiosas, por encarnar o espírito dos ensinamentos de Cristo, procurando sempre aproximar-nos de Deus e servir os nossos semelhantes com amor genuíno.
O que os primeiros Padres da Igreja ensinavam sobre a religião?
Justino Mártir, escrevendo no século II, falou do cristianismo como a «verdadeira filosofia», salientando as suas dimensões racionais e éticas. Ele via a fé cristã como o cumprimento dos melhores insights da filosofia grega, ao mesmo tempo em que estava enraizada na revelação divina (Attard, 2023).
Tertuliano, por outro lado, perguntou famosamente: «O que tem Atenas a ver com Jerusalém?» Enfatizou o caráter distintivo da fé cristã em relação à filosofia pagã. No entanto, mesmo Tertuliano não falava de «religiões» no nosso sentido moderno, mas de diferentes abordagens da verdade e da sabedoria (Attard, 2023).
Os Padres da Igreja usavam frequentemente o termo «pietas» (piedade) para descrever a devoção adequada a Deus. Este conceito englobava a crença, a adoração e a vida ética. Para eles, a verdadeira piedade não era sobre rituais externos, mas sobre um coração e uma vida transformados (Malanyak, 2023).
À medida que a Igreja se expandia e enfrentava vários desafios, os Padres enfatizavam cada vez mais a importância da crença e da prática ortodoxas. Irineu, por exemplo, escreveu extensivamente contra o que via como ensinamentos heréticos, esforçando-se por definir e defender o que entendia como a verdadeira fé cristã (Bounds, 2012).
Ao mesmo tempo, muitos dos Padres, particularmente no Oriente, ressaltaram os aspectos místicos e experienciais da vida cristã. Para eles, o objetivo da «religião» cristã era a união com Deus através de Cristo. Esta perspetiva é particularmente evidente nos escritos de figuras como Gregório de Nissa e Pseudo-Dionísio (Zaprometova, 2009, pp. 13-14, 2010, pp. 1-19).
No nosso tempo, enquanto enfrentamos novos desafios e perguntas, inspiremo-nos na sabedoria dos Padres. Como eles, procuremos articular a nossa fé de formas que respondam às necessidades e questões da nossa era, mantendo sempre o nosso foco no Cristo vivo e no poder transformador do amor de Deus.
Como o Antigo Testamento vê a religião em comparação com o Novo Testamento?
No Antigo Testamento, o que podemos designar por «religião» é principalmente entendido como a relação pactual entre Deus e Israel. Esta relação não é vista como uma «religião» entre muitas, mas como o vínculo único entre o Criador e o seu povo escolhido. A palavra hebraica frequentemente traduzida como «religião» (×’×a, dat) aparece apenas em livros posteriores, como Ester, e refere-se mais à lei ou ao decreto do que ao que chamaríamos hoje de religião (Susila & Risvan, 2022).
O Antigo Testamento contrasta frequentemente o culto a YHWH com as práticas das nações vizinhas, não como diferentes «religiões», mas como fidelidade ou infidelidade ao único Deus verdadeiro. Os profetas criticam frequentemente não a «falsa religião», mas a idolatria e a injustiça social como violações do pacto (Andreev & Gasymov, 2024).
No Novo Testamento, vemos uma mudança de perspectiva, influenciada pelo contexto greco-romano e pela mensagem universalizadora do Evangelho. Embora ainda enraizado na tradição da aliança, o Novo Testamento apresenta a fé em Cristo como transcendendo as fronteiras étnicas e culturais.
A palavra grega frequentemente traduzida como «religião» (Î ̧ÏÎηÎÎÎÎμÎ ̄α, thrÄ’skeia) aparece apenas algumas vezes no Novo Testamento, nomeadamente em Tiago 1:26-27, onde «religião pura e imaculada» é definida em termos de comportamento ético e de cuidados aos vulneráveis (Reardon, 2022).
Paulo, em suas cartas, muitas vezes contrasta a fé em Cristo com a observância da lei judaica e a adoração de ídolos gentios. No entanto, não apresenta o cristianismo como uma nova «religião», mas como o cumprimento das promessas de Deus a Israel e o verdadeiro caminho para a reconciliação com Deus para toda a humanidade (Persig, 2022, pp. 21-34).
O livro de Atos retrata o movimento cristão primitivo navegando sua relação com o judaísmo e as práticas religiosas greco-romanas. Tal reflete uma consciência crescente do cristianismo como distinto, mas também em continuidade com a fé de Israel (Hannan, 2023, p. 502-509).
No nosso tempo, ao dialogarmos com pessoas de diferentes religiões e culturas, que possamos inspirar-nos no testemunho bíblico para permanecermos firmemente enraizados na nossa fé em Cristo e, ao mesmo tempo, estarmos abertos a reconhecer a obra de Deus para além dos nossos limites familiares. Como os autores bíblicos, procuremos sempre discernir e proclamar a presença e a ação amorosa de Deus no nosso mundo.
O que a Bíblia diz sobre a prática da religião?
Em toda a Bíblia, vemos uma ênfase constante na importância da fé sincera e da obediência à vontade de Deus. O profeta Miquéias belamente resume isso no Antigo Testamento: «Ele mostrou-te, ó mortal, o que é bom. E o que o Senhor exige de vós? Agir com justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o teu Deus» (Mq 6, 8). Esta passagem recorda-nos que a verdadeira «religião» em termos bíblicos não tem a ver com rituais, mas sim com um modo de vida caracterizado pela justiça, compaixão e humildade (Nkabala, 2022).
No Novo Testamento, Jesus muitas vezes critica as práticas religiosas que estão divorciadas do amor genuíno a Deus e ao próximo. Em Mateus 23, Ele adverte contra a hipocrisia e o ritualismo vazio, em vez disso, chama por uma fé que transforma o coração. No entanto, Jesus também afirma o valor das observâncias religiosas quando são expressões de devoção sincera, como vemos na sua própria participação nas festas e costumes judaicos (Sosteric, 2021).
O apóstolo Paulo, em suas cartas, enfatiza que a salvação vem através da fé em Cristo, não através de obras religiosas. Mas também ensina que a verdadeira fé inevitavelmente produzirá boas obras. Em Gálatas 5:6, ele escreve que o que importa é a «fé que se expressa através do amor» (Persig, 2022, pp. 21-34).
A carta de Tiago oferece talvez o ensino mais explícito sobre a prática religiosa no Novo Testamento. Tiago 1:27 afirma: «A religião que Deus, nosso Pai, aceita como pura e irrepreensível é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas na sua angústia e evitar ser poluído pelo mundo.» Esta passagem sublinha que a prática religiosa autêntica diz fundamentalmente respeito ao cuidado dos outros e à santidade pessoal (Lundmark, 2019, pp. 141-158).
Ao considerarmos estes ensinamentos, lembremo-nos de que a Bíblia nos chama a uma fé viva que abrange todos os aspectos de nossas vidas. Não se trata de seguir um conjunto de regras, mas de cultivar uma relação profunda com Deus que transborda em amor pelos outros.
No nosso contexto moderno, em que «praticar a religião» pode significar muitas coisas diferentes, deixemo-nos guiar pela ênfase bíblica na sinceridade, no amor e na justiça. Que as nossas práticas religiosas, qualquer que seja a forma que assumam, sejam sempre expressões de genuína devoção a Deus e compaixão pelos nossos semelhantes. Esforcemo-nos, em tudo o que fazemos, para encarnar o amor transformador de Cristo em nosso mundo.
